Carnaval acende alerta para doenças sexualmente transmissíveis; saiba como evitá-las
Governo quer distribuir 74 milhões preservativos masculinos e 3,1 milhões femininos no Carnaval para conter avanço de doenças transmitidas durante as relações sexuais.
A preocupação deve existir no ano todo, mas no carnaval se intensificam
as campanhas de prevenção a doenças sexualmente transmissíveis. Neste
ano, o esforço é de elevar o tom de alarme para os mais jovens, grupo no
qual o Ministério da Saúde vem constatando menor hábito de usar
preservativos - e maior índice de contágio por HIV.
Até o fim do carnaval, as peças publicitárias do governo estarão em
TVs, revistas e redes sociais propagando o slogan "No carnaval, use
camisinha - e viva essa grande festa!".
A campanha chama atenção para o alto número de pessoas no Brasil que
têm HIV mas ainda não sabem - aproximadamente 112 mil brasileiros - e
para os cerca de 260 mil que vivem com o vírus mas ainda não se tratam, o
que as torna propagadores da doença.
A falta de prevenção no início da vida sexual tem preocupado o
Ministério de Saúde, afirma Adele Schwartz Benzaken, diretora do
Departamento de Infecções Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites
Virais.
"Nos últimos anos temos observado que a população mais jovem está
reduzindo o uso do preservativo", alerta, citando a última Pesquisa de
Comportamentos e Atitudes e Práticas, que indica que, entre jovens de 15
a 24 anos, apenas 56,6% usam camisinha com parceiros eventuais.
As ações do governo durante o carnaval incluem a presença de "homens
camisinha" distribuindo preservativos nas ruas - serão 74 milhões
preservativos masculinos e 3,1 milhões femininos. Estão sendo realizadas
também campanhas informativas com foliões nos blocos, em cidades como
Rio, Recife, Salvador e Ouro Preto.
O principal foco do Ministério da Saúde é a prevenção de HIV/Aids. Mas
especialistas alertam para o risco de propagação de outras doenças, como
HPV, herpes genital, gonorreia, hepatite B e C e sobretudo sífilis -
que vem apresentando aumento no número de ocorrências no Brasil,
acompanhando uma tendência mundial.
Saiba mais sobre cada doença abaixo. Todas podem ser evitadas com o uso do preservativo.
HIV/Aids
O vírus da imunodeficiência humana é o causador da Aids, que ataca o
sistema imunológico e derruba o sistema de defesa do organismo.
No Brasil, a epidemia de HIV/Aids é considerada estabilizada, mas vem avançando entre os mais jovens.
Na última década, o índice de contágio mais que dobrou entre jovens de
15 a 19 anos, passando de 2,8 casos por 100 mil habitantes para 5,8
casos.
Também aumentou na faixa etária entre 20 a 24 anos, chegando a 21,8 casos a cada 100 mil habitantes.
"Isso mostra que nossa população jovem está mais vulnerável ao HIV e
precisa acessar mais conhecimento e os serviços de saúde para se
testar", afirma a infectologista Brenda Hoagland, pesquisadora do
Laboratório de Pesquisa Clínica em DST e AIDS do Instituto Nacional de
Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz).
"Como a nova geração não assistiu à epidemia quando o HIV ainda não
tinha tratamento, é possível que não tenha uma percepção sobre a
gravidade do HIV, o que aumenta nossa responsabilidade de informar sobre
sobre riscos e prevenção", acrescenta ela.
Atualmente, cerca de 827 mil pessoas vivem com o HIV no país, e
aproximadamente 112 mil brasileiros têm o vírus, mas não o sabem.
O tratamento contínuo ao HIV pode controlar a doença, garantir a
sobrevida dos infectados e tornar o vírus indetectável (o que equivale a
prevenir a transmissão com uma segurança de 96%). Mas não pode curá-la.
O teste rápido costuma detectar a infecção cerca de 15 dias após o
contágio.
As campanhas costumam focar no uso da camisinha como método de
prevenção, mas é essencial conhecer também a proteção disponível para
casos de relação de risco desprotegidas, frisa Brenda - a chamada
profilaxia pós-exposição, ou PEP, um conjunto de medicamentos contra o
HIV que devem ser ingeridos por 28 dias no período imediatamente após o
possível contágio.
"Se uma pessoa teve uma relação sexual desprotegida em que suspeite de
risco para o HIV, ela deve procurar um serviço de saúde até no máximo 72
horas após a relação. Ou seja, se a camisinha rompeu ou deixou de ser
usada, a pessoa pode buscar o atendimento numa emergência e o serviço é
gratuito", ressalta a infectologista, acrescentando que quanto mais cedo
se inicia o tratamento dentro dessas 72 horas, maiores suas chances de
eficácia.
Sífilis
Transmitida pela bactéria Treponema pallidum, a infecção apresenta
diferentes estágios, do primário ao terciário, e tem maior potencial de
infecção nas duas primeiras fases, que costumam ocorrer até 40 dias após
o contágio. É transmitida por relações sexuais ou pode ser passada da
gestante para o bebê.
"A sífilis congênita, que é notificada compulsoriamente no Ministério
da Saúde, é transmitida de mãe para filho e teve aumento de quase 200%
ao longo dos últimos dois anos", alerta a infectologista Brenda
Hoagland, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas
(INI/Fiocruz).
Os sintomas são feridas na região genital (na fase primária) e manchas
no corpo que sugerem uma alergia (na fase secundária). O tratamento da
doença é gratuito na rede pública, feito com penicilina.
O problema é que os sintomas podem se curar sozinhos e passar despercebidos.
"O fato de uma pessoa não ter mais sintomas não significa que esteja
curada. Esse é o grande problema e faz com que o diagnóstico esteja
muito abaixo do necessário", avisa Brenda.
A sífilis terciária pode aparecer de dois a quarenta anos após o início
da infecção, podendo causar lesões neurológicas, cardiovasculares e
levar à morte.
"Pessoas com vida sexual ativa e que tenham relações desprotegidas
devem fazer o teste para a sífilis independentemente dos sintomas, da
mesma forma que devem fazer testes para o HIV e serem vacinadas contra
Hepatite B", recomenda Brenda, lembrando que a sífilis aumenta o risco
de infecção por HIV.
O acompanhamento da gestante no pré-natal também é fundamental para evitar a transmissão da doença para o bebê.
A sífilis pode levar à má-formação do feto, surdez, cegueira e deficiência mental.
HPV
O Papilomavírus Humano existe com mais de 200 variações e se manifesta
por meio de formações verrugosas - que podem aparecer no pênis, vulva,
vagina, ânus, colo do útero, boca ou garganta.
O sexo é a principal forma de transmissão do HPV, seja pelo coito ou pelo sexo oral.
O HPV é uma preocupação grave de saúde pública pelo potencial de alguns
tipos do vírus causarem câncer, principalmente no colo do útero e no
ânus, mas também na boca e na garganta, que vêm aumentando entre os
jovens.
O vírus pode ficar latente por períodos prolongados sem que haja sintomas, e é difícil erradicar a infecção por completo.
Por isso, especialistas recomendam que mulheres em idade reprodutiva
façam exames preventivos anuais no colo do útero para monitorar o
aparecimento de possíveis lesões que antecedem o câncer e que podem ser
tratadas.
A infectologista Brenda Hoagland, do Instituto Nacional de Infectologia
Evandro Chagas (INI/Fiocruz), estende a recomendação a homens que fazem
sexo anal desprotegido, e devem fazer exames preventivos na região anal
e no reto.
No fim do ano passado, o Ministério da Saúde anunciou que a vacina
quadrivalente que protege contra quatro tipos de HPV passaria a ser
oferecida também para meninos, na faixa de 12 a 13 anos. Até agora, a
vacina só era disponibilizada para meninas de 9 a 13 anos.
Gonorreia
A doença é causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae, que infecta sobretudo a uretra.
O sintoma mais comum é a presença de corrimento na região genital, mas a
infecção pode causar dor ou ardor ao urinar, dor ou sangramento na
relação sexual e, nos homens, dor nos testículos. A maioria das mulheres
infectadas não apresenta sintomas.
O tratamento é feito com antibiótico e deve ser estendido ao parceiro, mesmo que este não tenha sintomas.
Quando não tratada, a infecção pode atingir vários órgãos, como o
testículo, nos homens, e o útero e as trompas, nas mulheres, e pode
causar infertilidade e complicações graves.
Herpes genital
Transmitido pela relação sexual com uma pessoa infectada, o vírus do
herpes causa pequenas bolhas e lesões dolorosas na região genital
masculina e feminina.
As feridas podem acompanhar ardor, coceira, dor ao urinar e mesmo
febre, e os sintomas podem reaparecer ou se prolongar quando a imunidade
está baixa.
"O herpes não tem cura. A partir do momento que você tem uma infecção,
você ter vários episódios ao longo da vida. A única forma de prevenção é
o preservativo", ressalta a infectologista Brenda Hoagland, da Fiocruz.
Além do incômodo causado pelas lesões, o herpes pode facilitar a entrada das outras doenças sexualmente transmissíveis.
Os portadores do vírus devem ter cuidado redobrado para não
transmiti-lo, o que ocorre principalmente quando as feridas estão
presentes, mas pode também ocorrer na ausência das lesões ou quando elas
já estão cicatrizadas.
A doença pode ter consequências graves durante a gravidez, podendo provocar aborto e trazer sérios riscos para o bebê.
Hepatite B ou C
No Brasil, as formas virais mais comuns de hepatite ou inflamação do fígado são as causadas pelos vírus A, B ou C.
A hepatite B é transmitida sexualmente, e também por transfusão de
sangue e compartilhamento de material para uso de drogas, entre outros.
As mesmas formas valem para a hepatite C, mas a transmissão sexual é
mais rara, por isso, ela não é considerada propriamente uma infecção
sexualmente transmissível.
De acordo com o Ministério da Saúde, milhões de brasileiros são portadores dos vírus B ou C e não sabem.
Correm, assim, o risco de desenvolver a doença crônica e ter graves danos ao fígado, como cirrose e câncer.
A vacina contra a hepatite B é gratuita e disponível na rede pública. O
diagnóstico é feito por meio de exame de sangue e o tratamento pode
combinar medicamentos e corte de bebidas alcoólicas.
Os sintomas para ambas as doenças são raros, mas podem incluir cansaço, tontura, enjoo e pele e olhos amarelados.
Como a doença é considerada "silenciosa", é indicado realizar exames de rotina que detectam todas as suas formas.
Ainda não há vacina para a hepatite C.
Nenhum comentário :
Postar um comentário