Mais da metade dos médicos recém-formados é reprovada em exame do Cremesp
Escolas públicas tiveram piora no desempenho, com 37,8% dos reprovados. Nas instituições privadas, 66,3% dos alunos foram reprovados.
Mais da metade dos recém-formados em escolas médicas do Estado de São
Paulo foi reprovada no Exame do Conselho Regional de Medicina do Estado
de São Paulo (Cremesp) 2016. De acordo com o conselho, dos 2.677
participantes, 56,4% (1.511) não alcançaram a nota mínima porque só
acertaram menos de 60% das 120 questões da prova.
Em 2015, o índice de reprovação foi menor: 48,1%. Os organizadores do
exame apontam que o resultado corrobora a tendência histórica. “Com
exceção do Exame de 2015, nos últimos 10 anos o índice de reprovação
ficou acima de 50%, ou seja, neste período, mais da metade dos novos
médicos entra no mercado de trabalho sem ter conhecimentos básicos de
situações cotidianas do atendimento médico. É preciso que as escolas
médicas promovam melhorias nos métodos de ensino e imprimam mais rigor
em seus sistemas de avaliação”, afirma Bráulio Luna Filho, diretor do
Cremesp e coordenador do Exame.
Segundo o Cremesp, as escolas privadas tiveram maior percentual de
reprovação que os cursos públicos.
"No entanto, houve aumento importante
de reprovação em comparação ao Exame de 2015 entre os egressos das
instituições públicas, passando de 26,4% para 37,8%. Já entre os cursos
de medicina privados, 66,3% dos alunos foram reprovados em 2016, também
superando os resultados de 2015, com 58,8%", aponta o levantamento.
Histórico do exame
- 2015 - 2.726 participantes - 48,1% de reprovação
- 2014 - 2.891 participantes - 55% de reprovação
- 2013 - 2.843 participantes - 59,2% de reprovação
- 2012 - 2.411 participantes - 54,5 % de reprovação
Em nota divulgada nesta quarta-feira (8), o Sindicato das Mantenedoras
de Ensino Superior (Semesp) contestou a avaliação, e afirmou que "o
referido exame não tem competência para medir a qualidade do curso e nem
do aluno porque, além de não ser componente curricular, o aluno precisa
somente comparecer no dia da prova sem ter qualquer compromisso com o
resultado". Além disso, o sindicato afirma que, segundo o Exame Nacional
de Desempenho de Estudante (Enade), aplicado pelo governo federal, só
13,04% dos cursos de medicina privados avaliados pelo Cremesp foram
avaliados como insatisfatório. Na mesma nota, o consultor jurídico do
Semesp, José Roberto Covac, afirmou que "a avaliação encabeçada pelo
Cremesp é inconsistente e não retrata a realidade dos cursos de medicina
do estado".
Estrutura da prova
A prova teve 120 questões de múltipla escolha, com cinco alternativas
de respostas e duração de até cinco horas. O conteúdo abrangeu as
principais áreas da Medicina: Clínica Médica, Clínica Cirúrgica,
Pediatria, Ginecologia, Obstetrícia, Saúde Pública e Epidemiologia,
Saúde Mental, Bioética e Ciências Básicas.
Para aprovação, o candidato deveria responder corretamente a 72 das
questões, o que corresponde a um percentual de acertos de 60%. A prova
foi aplicada pela Fundação Carlos Chagas (FCC) e os critérios e a
metodologia foram os mesmos utilizados e validados nos exames
anteriores.
A 12ª edição do Exame do Cremesp foi realizada no dia 16 de outubro de
2016 nos municípios de Botucatu, Campinas, Marília, Presidente Prudente,
Ribeirão Preto, Santos, São Carlos, São José do Rio Preto, São Paulo e
Taubaté. Atualmente, existem 46 escolas médicas em atividade no Estado
de São Paulo.
Dessas, 30 foram avaliadas no Exame de 2016. As demais,
abertas há menos de seis anos, ainda não haviam formado turmas à época
do Exame.
Importância da avaliação
Todo estudante que se formou em medicina e quer se inscrever no
conselho paulista precisa fazer o exame para poder tirar o registro do
CRM (Conselho Regional de Medicina) e atuar como médico no estado.
Apesar de ser um exame obrigatório, mesmo quem for reprovado também pode
obter o registro.
Isso porque, por força de lei, o conselho não pode condicionar o
registro médico ao resultado de uma prova. Para tanto, seria preciso uma
lei federal, como acontece com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Entretanto, desde 2016, de acordo com o Cremesp, a participação no
exame passa a ser critério para acesso à Residência Médica, concurso
público e mercado de trabalho. Programas de Residência Médica, como da
Unicamp, USP de São Paulo, USP de Ribeirão Preto, Santa Casa, Unifesp,
ABC, Hospital do Servidor Público Estadual, FM Rio Preto entre outros,
passaram a exigir a participação no Exame do Cremesp como condição para o
acesso à Residência.
"A Secretaria da Saúde do Município de São Paulo publicou portaria
exigindo a participação na prova do Cremesp a todo médico que se
inscrever em concurso público para preenchimento de vagas. Decreto da
Secretaria de Estado da Saúde faz a mesma exigência. Recentemente, a
Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) firmou com o Cremesp
um protocolo de intenções, estabelecendo que o Exame do Cremesp será
considerado na sele ção de candidatos à Residência Médica e na
contratação de profissionais, para os mais de 80 hospitais e
instituições conveniados à entidade, entre eles os hospitais Albert
Einstein e Sírio-Libanês", informou o Cremesp.
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