Como a escolha de times nas aulas de educação física pode deixar traumas nas crianças
Muitos adultos ainda se lembram como era ruim ser escolhido por último 'ou penúltimo' para o time; professor americano diz que prática afasta adolescentes do esporte e pode ter sequelas negativas a longo prazo.
Mesmo uma pequena (e não científica) pesquisa entre colegas de trabalho
ou entre amigos em um bar já pode mostrar que a prática de escolher
times durante as aulas de educação física permanece gravada na memória
de muitos como uma espécie de tortura.
"Me escolhiam sempre por penúltimo" e "ainda que não te escolhessem no
final, você sabia que era ruim" são frases comuns quando esse período da
infância é lembrado.
A prática ainda é comum em aulas de educação física ao redor do mundo,
mas um professor especialista em formação de docentes, David Barney, da
universidade americana Brigham Young, quer acabar com essa tradição.
De acordo com Barney, a prática pode fazer as crianças associarem exercícios a algo negativo.
Uma prática 'desconfortável'
Barney acredita que ser escolhido por último pode não apenas ser
humilhante para um adolescente, como também ter consequências emocionais
de longo prazo.
Em um artigo publicado recentemente na revista The Physical Educator,
ele analisa os resultados dessa prática com jovens dos primeiros anos do
ensino médio.
Para ele, esse momento "desconfortável" em que professores ou alunos
selecionam o jogadores - publicamente, aunciando um de cada vez - para
formarem as equipes de uma disputa esportiva, pode ter um impacto
emocional profundo para os alunos.
Muitos dos estudantes que Barney entrevistou disseram não gostar de
fazer exercícios, mas participavam dos jogos porque eram obrigados pelo
professor.
"Se você escolhe equipes para jogar basquete, por exemplo, dentro de
dois dias as crianças já não lembram quem ganhou", diz Barney.
"Mas se lembram de como se sentiam, lembram que foram escolhidas por último", acrescenta.
A prática não ajuda a dar confiança aos alunos e pode se tornar um
ciclo vicioso que desencoraja crianças com pouco talento para o esporte.
Melhor no privado
Como alternativa, o especialista em educação sugere escolher as equipes de forma privada, para evitar humilhações.
Segundo Barney, se próprios professores fizerem as escolhas dessa
forma, os alunos podem expandir seu círculo de amizades, sem se sentir
envergonhados ou excluídos, e as equipes podem ficar mais equilibradas.
Por outro lado, as crianças e adolescentes podem avaliar seu desempenho
segundo seu progresso pessoal e não de acordo com quanto tempo
demoraram para serem escolhidas por uma equipe.
Além disso, observa, "se economiza muito tempo quando isso é feito no privado."
Objetivo: criar associações positivas
Barney acredita que ter uma boa experiência nas aulas de educação
física pode ter uma correlação com a sensação de bem-estar no longo
prazo.
De fato, um estudo de 2014 conduzido por psicólogos da mesma
universidade descobriu que crianças que sofreram bullying durante a aula
de ginástica faziam menos esporte no ano seguinte.
O professor tenta focar os resultados dos seus estudos em ações
concretas que os professores podem tomar para melhorar essas
experiências.
Uma sugestão feita pelo especialista em outro artigo é colocar música durante a aula.
De acordo com seu trabalho, estudantes com idades entre 9 e 10 anos
ficavam quase 6 vezes mais propensos a aproveitar os exercícios se havia
música, que tinha um efeito motivador.
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