domingo, 31 de janeiro de 2016

31/01/2016 14h52 - Atualizado em 31/01/2016 14h52

Aumento dos casos de microcefalia leva alagoanos a adiarem gravidez

Por precaução e recomendação médica, casais adiam planos de ter filhos.
Ministério da Saúde pede para Saúde dos municípios orientar famílias.

Rose Ferreira (Foto: Rose Ferreira /Arquivo Pessoal)
Rose Ferreira, Erivaldo Farias e Alice vão aguardar mais um pouco para chegada de um novo membro da família (Foto: Rose Ferreira /Arquivo Pessoal)
O surto dos casos suspeitos de microcefalia no Brasil tem feito com que alguns casais mudem o planejamento familiar e adiem o sonho de ter filhos. O país já registrou 4.180 casos suspeitos de microcefalia, sendo 175 em Alagoas, segundo o último boletim da Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (Sesau).

Inseguros com as informações sobre os casos suspeitos da doença que afeta a saúde dos bebês e diante do pronunciamento de um médico da Organização Mundial de Saúde (OMS), que recomendou que mulheres que vivem em local de surto do Zika Vírus evitem a gestação, muitos casais desistiram de engravidar diante do risco de gerar crianças com deficiências que podem se prolongar até a vida adulta.
Este é o caso dos servidores públicos federais Rose Ferreira e Erivaldo Farias. Casados há 8 anos e com uma filha prestes a completar 4 anos, eles planejavam para o começo de 2016 uma nova gravidez.

“Como terminei a pós-graduação e a Alice já está mais independente, entendemos que este era o momento para o segundo filho", relata Rose.
O momento, porém, mudou. "Com todos esses casos de microcefalia, as declarações do Ministério da Saúde e incertezas sobre o problema, resolvemos esperar mais um pouco. Algo que foi até mesmo recomendado pela minha médica”, explica, ao ressaltar a sensação de frustração.

“O frustrante não está só em adiar a gravidez. Mas em perceber que os discursos do Ministério da Saúde chegam a ser invasivos ao recomendar as pessoas que não engravidem, ao invés de atuar em uma solução para o problema", questiona a servidora pública.
"Com isso, optamos em não correr o risco porque um bebê com microcefalia não se resume só a uma criança com implicações; mas sim, na mudança de toda uma estrutura familiar. Sei que nunca poderemos ter certeza de nada ao engravidar, porém, diante de um cenário deste, avaliamos que não vale a pena correr o risco”, completa Rose Ferreira.

Precaução
Também em situação de incertezas e mudança dos planos familiares estão a fisioterapeuta Ticiana Leal e o esposo. Eles são casados há 9 anos e também decidiram repensar a gravidez do primeiro filho, que estava prevista para o começo deste ano.
“Estávamos decididos e ansiosos para engravidar este ano, quando surgiu toda essa história dos casos da microcefalia. No entanto, como sou fisioterapeuta e estou me preparando para cuidar como profissional dessa geração de crianças especiais, e entendendo a gravidade das consequências desta doença, decidimos repensar e nos preservar do risco de gerar uma criança com um problema que vai precisar de auxílio por toda vida”, diz Ticiana.

Segundo ela, a decisão de adiar a gravidez também foi tomada porque o cenário de intranquilidade proporcionado pelo zika vírus ainda pode gerar outras implicações para saúde da mulher e dos bebês gerados, que ainda não podem detectados.

“Falo isso porque, além da tensão gerada no emocional das gestantes, esse cenário ainda não expõe questões claras sobre a contaminação do vírus ou até mesmo a consequência do uso constante de repelentes pelas mulheres grávidas. São muitas perguntas ainda sem respostas que resultam na falta de tranquilidade. Entre o benefício e o risco, minha decisão é esperar mais um pouco para me tornar mãe”, fala Ticiana.

Um estudo da OMS estima que os casos de zika pode chegar a 4 milhões em países das Américas em 2016.
Monitoramento
Diante do alerta de surto do zika vírus e da preocupação das consequências da contaminação para gestantes, a gerente da Atenção Primária da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), Tânia Queiroz, confirma que a recomendação do Ministério da Saúde é que as famílias adotem um planejamento familiar evitando a gestação até o avanço das investigações sobre a microcefalia.

“O protocolo estabelecido pelo Ministério da Saúde para o atual cenário é que os municípios orientem os casais a fazerem um planejamento familiar, evitando a gestação de imediato. E caso a gestação ocorra, que se oriente as gestantes a adotaram condutas preventivas que vão desde a uso de repelentes e mosquiteiros a roupas longas”, diz.
Quanto ao monitoramento dos casos de microcefalia, a gerente da Atenção Primária diz que no sistema público de saúde estão sendo adotadas condutas que vão desde a investigação da contaminação à orientação das gestantes que apresentam suspeitas de bebês em condição de microcefalia.

“Ao ser detectado um caso suspeito, a gestante é submetida à tomografia computadorizada. O laudo é emitido em 48 horas. Caso seja constatada a microcefalia, a mãe e o bebê são encaminhados para consultas com médicos neuropediatras. Do contrário, são encaminhados para consultas com pediatras”, relata Tânia Queiroz ao enfatizar que Alagoas está com contratos para fazer 12 exames de tomografia computadorizadas por dia com gestantes, contabilizando 60 por semana.

“Além disso, o Ministério da Saúde está orientando que os municípios qualifiquem o pré-natal, garantindo que todas as gestantes tenham acesso aos exames necessários, para que se tenham as informações possíveis sobre a gravidez. Como também, recomenda que as mães que tenham casos de microcefalia detectada recebam apoio psicológico para que possa conviver melhor com a condição da doença”, completa.

Os acompanhamentos dos casos suspeitos de microcefalia em Alagoas são realizados nos hospitais Hélvio Auto (HEHA), Hospital Universitário (HU), Pestalozzi, APAE, AAPE e Adefal.

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