sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

25/2/2016 às 17h16 (Atualizado em 25/2/2016 às 17h17)

Bebê de mulher com zika morre durante a gestação por ter líquido no lugar do cérebro

Médicos estudam chances de hidranencefalia estar relacionada ao zika vírus
Médicos detectam primeiro caso de hidranencefalia em bebês de mães com zikaBBC
Além da microcefalia, o vírus zika parece ser capaz de causar também anomalias fora do sistema nervoso central em bebês gestados por mães infectadas pelo vírus. Um estudo de caso divulgado nesta quinta-feira (25) por pesquisadores brasileiros e americanos reforça uma suspeita que já vem sendo aventada — de que o zika causa uma síndrome congênita —, e aponta para uma potencial relação com o acúmulo de líquido generalizado no corpo do bebê e morte do feto.

O trabalho relata o caso de uma menina nascida morta em Salvador com uma condição conhecida como hidranencefalia (em que os hemisférios cerebrais desaparecem e a cavidade é preenchida por líquido cefalorraquidiano), calcificações intracranianas e diversas outras lesões. O bebê apresentou ainda uma outra condição que até então não tinha sido relacionada com zika: a hidropsia, que se caracteriza por acúmulo de líquido e inchaço sob a pele, o peritônio (membrana que reveste a parte interna da cavidade abdominal) e a pleura (membrana que envolve o pulmão). Autópsia revelou a presença do vírus zika no córtex cerebral, na medula e no líquido amniótico.
O diretor do Hospital Geral Roberto Santos, de Salvador, Paulo Antonio Raimundo de Almeida, afirmou que o zika pode estar atrelado a outras doenças fetais.
— Resolvemos relatar o caso em revista científica porque apresenta uma evidência adicional de que o zika pode, além da microcefalia e de doenças oftalmológicas, estar ligado a ocorrência de hidropsia e à morte do feto.
O médico assina o trabalho na revista americana de doenças tropicais PLOS, junto com o médico fetal Manoel Sarno — que fez o acompanhamento da mãe na gravidez, e com pesquisadores americanos da Universidade Yale e do Texas. Os autores relatam que a mulher, de 20 anos, tinha iniciado o cuidado pré-natal na 4ª semana de gestação, quando foi testada negativamente para HIV, hepatite, toxoplasmose, rubéola e citomegalovírus, e a gravidez se desenvolvia sem problemas. No ultrassom da 14ª semana, por exemplo, a avaliação foi normal.

No exame da 18ª semana, porém, se observou que o feto estava com o peso bem abaixo do normal, e os ultrassons seguintes, na 26ª e na 30ª, constataram a microcefalia e o desaparecimento dos hemisférios cerebrais, que se liquefizeram. O feto acabou morrendo logo depois e um parto foi induzido na 32ª semana. 

A hidranencefalia é diferente da hidrocefalia, que se caracteriza por um crescimento maior da cabeça. Nesse caso também há um acúmulo de líquido, mas o tecido cerebral ainda existe. Na hidranencefalia, não, e isso anula qualquer possibilidade de sobrevivência.
Assintomática

Dois pontos chamaram a atenção dos pesquisadores. Primeiro a ocorrência da hidropsia, sugerindo que o zika pode ter uma ação que não é exclusiva ao sistema nervoso central. Segundo, o fato de que a mãe contou não ter sentido nenhum sintoma do vírus ou de qualquer outra infecção em nenhum momento da gravidez. Ela disse que tampouco algum familiar foi infectado.
Em geral, em outros casos de microcefalia que estão sendo associados ao zika, as mães relatam terem sentido sinais da infecção. Segundo Sarno, o caso é bem atípico em todos os casos.
Apesar de ela ter ficado assintomática, como foi detectado o crescimento anormal do feto na 18ª semana, os pesquisadores suspeitam que houve uma infecção intrauterina anterior a isso, provavelmente no primeiro trimestre da gestação.
 O grupo alerta que os médicos precisam estar atentos a casos assintomáticos. Eles afirmam também que um só caso é insuficiente para falar que esses outros problemas podem mesmo ter sido causados pelo zika e sugerem que especialistas fiquem atentos para investigar outros casos de aborto e bebês natimortos para tentar descobrir se pode haver essa ligação.

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