segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

22/2/2016 às 08h01 (Atualizado em 22/2/2016 às 09h25)

Exames atrasam e 3.935 famílias ficam sem saber se o filho tem microcefalia

Do total de notificações de má-formação, 74% ainda são classificadas como "em investigação" 
Mãe segura filho de 4 meses com microcefalia em OlindaReuters
Pelo menos 3.935 famílias brasileiras enfrentam angústia de não saber se seu filho tem ou não microcefalia. São pais e mães comunicados sobre a suspeita de o bebê apresentar a má-formação, mas que não receberam, até o momento, um diagnóstico fechado. Aguardam a realização de exames complementares, como ultrassom e, em muitos casos, tomografias.
Até agora, a maioria dos casos permanece sem esclarecimento. Do total de notificações no Brasil, 74% ainda são classificadas como "em investigação." O maior porcentual ocorre no Norte, onde 87% dos registros seguem sem esclarecimento. Mas no Sudeste, onde a oferta de serviços de saúde é significativamente maior, a situação não é muito diferente. A taxa de casos em investigação nos Estados da região é de 84%.
O secretário de Atenção à Saúde, Alberto Beltrame, admite demora na avaliação de casos suspeitos de microcefalia, afirma que o problema pode levar ao sofrimento das famílias e diz ser necessária a adoção de medidas para reverter esse quadro.

"Esperávamos que esse número tivesse se reduzido, mas não foi o que vimos". 

Entre as opções estão mutirões e colaboração com MDS (Ministério de Desenvolvimento Social), que ficaria encarregado, por exemplo, de transportar mães e bebês em veículos próprios para levá-los a centro de diagnóstico. "Não é urgência médica, mas uma questão humanitária".
Há três semanas, a secretaria passou a enviar missões para Estados considerados mais críticos. Foram visitados Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, Bahia e Pernambuco. Nos próximos dias, será a vez de Tocantins, Mato Grosso, Alagoas, Maranhão e Piauí. Nesta semana, será discutida com Estados estratégias para reduzir a fila. "Há possibilidade de zerar a espera. Não podemos dar prazo, mas vamos agir para isso ocorrer".
A demora na divulgação no resultado final é provocada por um misto de fatores: burocracia, falta de infraestrutura ou agilidade para providenciar transporte das crianças a centros onde seria possível fazer o exame confirmatório e, sobretudo, desconhecimento. 

Espera

Boa parte dos pais aguarda há três meses uma definição. Desde que a emergência sanitária nacional foi declarada, em novembro, até 13 de fevereiro, só foram esclarecidos (confirmados ou descartados) 1.345 casos. Essa soma é menor do que o total de casos suspeitos que aguardavam avaliação no fim de dezembro — 1.832 casos. 

"Essa lentidão nos surpreendeu", diz Beltrame. Além do sofrimento para as famílias, a demora no fechamento do diagnóstico acaba sobrecarregando serviços de assistência. A recomendação é: enquanto o caso não é descartado, o paciente deve receber o tratamento como se de fato tivesse a síndrome.

Diante da microcefalia, o governo lançou em 2015 diretrizes para atender aos bebês. O bebê deve ter o perímetro cefálico medido duas vezes nas maternidades: logo no nascimento e 48 horas depois. Se na segunda medição o tamanho é igual ou inferior a 32 centímetros, o bebê deve fazer ultrassom. O problema, no entanto, é que, de acordo com a dimensão do perímetro cefálico, o exame é feito com dificuldade e o resultado é inconclusivo. Nesses casos, a indicação é que seja feita tomografia.

Beltrame diz que a demora não é provocada por falta de aparelhos. "Muitas vezes, os pacientes vivem em locais distantes, o que dificulta levá-los ao centro de atendimento." Por isso, a propostas de usar vans do MDS.

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