terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

21/2/2016 às 15h28 (Atualizado em 21/2/2016 às 15h50)

Neurologistas propõem cartilha para diagnóstico da síndrome de Guillain-Barré

Médicos têm observado outras síndromes neurológicas em pacientes que tiveram zika
Houve aumento de casos de Guillain-Barré depois do surto de zikaReuters
Um grupo de neurologistas que estuda o aumento de casos de Guillain-Barré depois do surto de zika vai propor às sociedades médicas e ao Ministério da Saúde a elaboração de cartilha e vídeos para orientar sobre o diagnóstico da síndrome que provoca paralisia e pode levar à morte, se não for tratada a tempo. Os especialistas estão preocupados com a dificuldade dos profissionais de saúde de identificarem a doença e temem tanto a subnotificação quanto o aumento de casos relatados por equívoco.
Na semana passada, a OMS (Organização Mundial da Saúde) informou que o registro da doença no País cresceu 19% entre janeiro e novembro de 2015 em relação a anos anteriores. Chama a atenção dos especialistas a situação de Estados como Alagoas, que registrou aumento de 517% no número de notificações nos 11 primeiros meses de 2015 em relação à média de casos nos mesmos períodos dos anos anteriores.
O Grupo de Estudos das Manifestações Neurológicas das Arboviroses reúne médicos do Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Eles se encontraram no sábado (20) em Natal para discutir as principais manifestações das doenças neurológicas pós-zika. Osvaldo Nascimento, neurologista e professor da UFF (Universidade Federal Fluminense), organizador do encontro, falou sobre o projeto.
— Vai haver cartilha e vídeos a serem disponibilizados para os clínicos, principalmente. Não há neurologista em tudo quanto é canto. Se o clínico, que é a pessoa que está ali de frente, conhece os sintomas, será capaz de fazer a diferença entre síndrome de Guillain-Barré e a histeria de quem teve uma reação alérgica, pensa que teve zika, e depois começa a sentir dormências e fraquezas, por exemplo. É preciso ter cuidado para não gastar à toa imunoglobulina, um remédio muito caro, quando tem outro paciente que realmente precisa e não pode ficar sem.
Segundo Nascimento, além dos casos de Guillain-Barré, os médicos têm observado outras síndromes neurológicas em pacientes que tiveram zika. Uma delas é a Adem (encefalomielite aguda disseminada, na sigla em inglês), que afeta o sistema nervoso central e também provoca paralisia. Ocorreram ainda casos de encefalites — houve pelo menos duas mortes no Rio de Janeiro, informou Nascimento.
As encefalites provocam sonolência, alteração do comportamento e tonturas. Podem resultar em paralisias, paralisias oculares e distúrbios respiratórios, afirmou a médica Ana Carolina Andorinho, também da UFF.
— Tivemos um paciente que foi internado numa sexta-feira e na segunda-feira já estava em ventilação mecânica. A evolução desses casos tem sido muito rápida.
Na reunião, os pesquisadores trocaram informações sobre a evolução das síndromes neurológicas em pacientes pós-zika, informou Nascimento.
— Parece que esses pacientes têm uma recuperação mais difícil. Mas ainda precisamos ter maior número de pacientes, precisamos ter estudo melhor para estabelecer esse link. A síndrome de Guillain-Barré parece ter mais variações do que normalmente se via.
Os pesquisadores chamaram a atenção para a dificuldade de comprovar que os pacientes de síndromes neurológicas tiveram realmente zika, já que os sintomas das doenças costumam aparecer cerca de dez dias depois da infecção pelo vírus.
— Os testes precisam estar disponíveis nas unidades de saúde.

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