terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

23/02/2016 15h49 - Atualizado em 23/02/2016 15h49

Mães de bebês com microcefalia em PE enfrentam longos deslocamentos

Sem apoio financeiro, elas precisam ir a vários hospitais quase todo dia.
Ministério da Saúde anuncia mapeamento; diretora da OMS vem ao Recife.

Bebês com microcefalia no Recife (Foto: Artur Ferraz/G1)
Bebês com microcefalia passam por exames e consultas em vários hospitais (Foto: Artur Ferraz/G1)


Desde que se iniciou o surto de microcefalia em Pernambuco, nos últimos meses do ano passado, as mães das crianças que nasceram com a malformação dizem enfrentar uma rotina difícil. Além dos muitos deslocamentos que precisam fazer entre hospitais, clínicas e postos de saúde, elas apontam gastos com remédios e transporte.

Nesta terça-feira (23), o Ministério da Saúde anunciou que vai começar a mapear as condições de atendimento aos bebês portadores da doença na rede pública. Na mesma data, a diretora-geral da Organização Mundial da Saúde, Margareth Chen, chega ao Recife, onde vai visitar o Instituto de Medicina Professor Fernando Figueira (Imip), um dos centros médicos que mais atendem pacientes com microcefalia no estado.
Sem apoio financeiro, as mães dessas crianças têm de passar por uma série de dificuldades no dia a dia. A principal delas é o transporte. “Saio de casa quase todo dia. Quando o meu filho está com a barriga inchada, a gente chama o vizinho que tem carro para levar a gente para a UPA”, conta a dona de casa Daniele Maria de Lira, que esperava atendimento na Associação de Assistência à Criança com Deficiência (AACD), na Ilha Joana Bezerra, área central da cidade. Ela mora com Thalles Roberto, de quatro meses, em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife (RMR).

Há aproximadamente um mês, ela deu entrada na solicitação pelo Vale Eletrônico Metropolitano (VEM) Livre Acesso, que possibilita aos portadores de deficiência passagem de graça no transporte público. Até agora espera receber o benefício. “Não tenho carro, não tenho ninguém para me deixar nos médicos. Aí tenho que passar por esse sufoco”, diz. Além do gasto, precisa andar em ônibus e metrô lotados. “Muita gente olha com cara feia para o meu filho, mas não dou importância”, afirma.
Bebês com microcefalia no Recife (Foto: Artur Ferraz/G1)
Daniele Maria se desloca pela cidade utilizando o
transporte público (Foto: Artur Ferraz/G1)
A mesma crítica é feita por outra dona de casa, Aline da Silva, que precisa percorrer 149 km, de Vertentes, no Agreste, à capital pernambucana. Sempre que precisa levar Luiz Guilherme, de quatro meses, ao médico, ela acorda de madrugada e anda aproximadamente 30 minutos até o centro da cidade onde mora. “Lá, eu pego o ônibus da prefeitura que vai deixando todo mundo nos hospitais. Às vezes, eu venho três dias seguidos. Tem que tirar dinheiro de onde não tem”, relata.

Moradora da Vila Popular, em Olinda, a dona de casa Ana Paula Albuquerque leva o filho, Danilo Miguel, de quatro meses, a vários centros de saúde. “Altino Ventura, Oswaldo Cruz, Cisam (Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros), Procape (Pronto Socorro Luiz Tavares da Silva)”, enumera. Assim como Daniele, ela deu entrada no VEM Livre Acesso em janeiro. “É muita correria. E muito gasto também. É passagem, alimentação, remédio, fralda”, diz.
G1 entrou em contato com a Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, responsável pelo deferimento das carteiras do VEM Livre Acesso, mas ainda não recebeu retorno.
Bebês com microcefalia no Recife (Foto: Artur Ferraz/G1)
Aline percorre 149 km de Vertentes ao Recife quase todo dia para levar filho ao médico (Foto: Artur Ferraz/G1)
Mapeamento
O Ministério da Saúde anunciou nesta terça-feira (23) que começa, ainda este semana, um mapeamento das condições de atendimento aos bebês com microcefalia nas unidades de saúde pública de todo o país. Segundo o ministério, uma equipe de 40 atendentes vai ligar para todas as famílias com o objetivo de colher informações sobre os exames e consultas às quais as crianças foram submetidas.

Nas perguntas que os técnicos da pasta farão aos familiares dos pacientes, estão os exames que foram feitos e os que ainda não foram realizados. A equipe do ministério também deve verificar se os pais dos bebês com suspeita de microcefalia estão recebendo as orientações necessárias. O estudo é feito três meses depois de o governo federal decretar situação de emergência de saúde devido ao aumento súbito no número de casos da doença.

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