Vacinação contra pneumonia reduz em até 45% as internações
Mesmo
com a temporada de vacinação contra a gripe chegando, a aproximação do
inverno causa apreensão entre os mais velhos, por causa do risco
aumentado de doenças respiratórias durante a estação. Para saber mais
sobre o assunto, conversei com o pneumologista Marco Aurelio Scarpinella
Bueno, doutor em Medicina pela Escola Paulista de Medicina da
Universidade Federal de São Paulo, médico do Hospital Israelita Albert
Einstein e Fellow do American College of Chest Physicians.
Como
se dá o desgaste do aparelho respiratório no processo de
envelhecimento? A atividade física pode ajudar a retardar os problemas?
Doutor Marco Aurélio Scarpinella Bueno:
alterações da anatomia e especialmente da fisiologia respiratória, que
ocorrem ao longo do envelhecimento, podem contribuir para uma frequência
maior de certas alterações observadas nos idosos, como pneumonias e a
diminuição da oxigenação arterial. O funcionamento do sistema
respiratório é bastante complexo, mas algumas mudanças importantes que
ocorrem ao longo da vida são:
1)
Aumento na rigidez da caixa torácica associado ao enfraquecimento dos
músculos torácicos e uma participação cada vez maior dos músculos
abdominais;
2)
Uma remodelação no formato do diafragma, o músculo mais importante do
sistema respiratório, que acaba perdendo sua eficiência, resultando em
um aumento no trabalho respiratório, especialmente durante o exercício;
3) A tosse, o principal mecanismo de defesa do sistema respiratório, se torna menos vigorosa e eficiente.
Apesar
da prática regular de exercícios ser benéfica ao melhorar a capacidade
aeróbica e reduzir diversos eventos cardiovasculares, não há dados
científicos robustos até o momento que mostrem que a atividade física
possa retardar o envelhecimento do sistema respiratório.
Quais são as doenças respiratórias mais comuns acima dos 50 anos?
Doutor Marco Aurélio: resumidamente, podemos dizer que as doenças respiratórias mais frequentes com o envelhecimento são:
Pneumonias:
quadros infecciosos do pulmão que podem ser causados por bactérias,
vírus ou fungos. Na pneumonia ocorre preenchimento do alvéolo por pus
e/ou material inflamatório. O paciente geralmente se queixa de tosse com
ou sem catarro.
Pode haver febre. Dificuldades para engolir
adequadamente e presença de refluxo gastroesofágico podem facilitar
episódios de broncoaspiração pulmonar.
Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC):
geralmente associada ao tabagismo, é uma doença crônica, incurável,
caracterizada pela obstrução progressiva à saída de ar dos pulmões.
Dentre as manifestações incluídas na DPOC destacam-se a bronquite
crônica, que também tem relação direta com o tabagismo e se caracteriza
por tosse crônica produtiva (com catarro) na maior do tempo; e o
enfisema pulmonar, igualmente com relação direta com o tabagismo.
Caracteriza-se por uma falta de ar progressiva aos esforços.
Câncer de pulmão:
90% dos casos têm relação com o hábito de fumar. Infelizmente a maior
parcela dos pacientes não apresenta sintomas específicos, o que faz com
que o diagnóstico seja feito em fases avançadas da doença, o que reduz
muito as chances de cura.
Fibrose pulmonar idiopática:
é uma doença respiratória crônica, progressiva e de mau prognóstico. É
uma entidade clínica que tem sido alvo de muita investigação, ainda não
se sabendo ao certo a etiologia exata da doença. É mais comum em homens a
partir dos 55 anos. Acredita-se que haja uma associação com doença do
refluxo gastroesofágico. Os pacientes se queixam de falta de ar crônica,
com piora progressiva e tosse seca.
Por que a chegada do outono/inverno aumenta o número de complicações respiratórias?
Doutor Marco Aurélio: a
Organização Mundial da Saúde afirma que o clima exerce papel importante
na transmissão de várias doenças infecciosas, mas a verdade é que a
relação entre clima e saúde ainda não está totalmente estabelecida. Há
trabalhos clínicos, com grande número de vieses, que mostram efeito da
temperatura ou da umidade do ar no desenvolvimento de doenças
respiratórias. Mais do que a queda de temperatura que pode ocorrer no
outono/inverno, é a diminuição da umidade relativa do ar o principal
fator que explica o aumento de doenças respiratórias neste período. Uma
umidade relativa do ar adequada é fator essencial para o bom
funcionamento do sistema respiratório. Outros fatores importantes são o
hábito das pessoas em manter portas e janelas fechadas, evitando a
circulação do ar, e a tendência em se aglomerarem em ambientes fechados.
Sabemos
que os mais velhos tendem a ingerir menos líquido, principalmente
quando está frio. Isso pode facilitar complicações respiratórias?
Doutor Marco Aurélio: de
fato, a umidade é essencial para o bom funcionamento do sistema
respiratório. É a umidade que garante a integridade da mucosa
respiratória e o bom funcionamento dos cílios respiratórios,
responsáveis por ajudar a eliminar os agentes infecciosos das vias
aéreas. É importante estimular a ingestão de líquidos, assim como o
hábito de lavar as narinas com soro fisiológico. Evitar locais fechados e
mal ventilados também é importante. Se possível, mantenha um
umidificador para combater o ar seco. A higiene adequada das mãos após
assoar o nariz e o hábito de tossir com etiqueta, ou seja, cobrir nariz e
boca ao tossir também são fatores importantes para evitar o contágio de
outras pessoas.
Doutor Marco Aurélio:
nesta época de outono/inverno não é incomum o aparecimento de
resfriados, que se caracterizam por obstrução nasal, espirros, uma leve
dor de garganta e, eventualmente febre baixa. Tais sintomas são
autolimitados e geralmente duram 3 ou 4 dias. Agora, se o paciente
apresentar febre alta, queda de estado geral, secreção espessa pelo
nariz ou tosse com catarro, é importante que procure assistência médica o
quanto antes.
A vacinação é importante? Em que casos ela é contraindicada?
Fonte: http://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/vacinacao-contra-pneumonia-reduz-em-ate-45-internacoes.html
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