Exames com resultado normal são 'desperdício' para o SUS, diz ministro da Saúde
Nos EUA, Ricardo Barros critica médicos que 'transferem responsabilidade' em diagnósticos e diz que sistema de saúde não pode ser 'tudo para todos'.
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou que "80% dos exames de
imagem no SUS (Sistema Único de Saúde) têm resultado normal" e que isso
representa "desperdícios que precisam ser controlados".
Barros participou na manhã deste sábado (8), em Cambridge (EUA). da
Brazil Conference, evento sobre o Brasil organizado pela Universidade
Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT). Em
apresentação e posteriormente em entrevista à BBC Brasil, defendeu a
necessidade de controlar a prescrição de exames.
"Temos que ter controle da demanda que os médicos fazem destes exames e
passar a avaliar como utilizam sua capacidade de demandar do SUS. Se o
médico solicita muitos exames que dão resultado normal, ele não está
agindo de forma correta com o sistema", afirmou Barros à BBC.
Segundo o ministro, exames de imagem (como tomografias e
ultrassonografias) que não identificam problemas ou doenças sugerem que
os médicos não estariam fazendo diagnósticos clínicos de forma correta.
Questionado se os exames precisam revelar problemas para serem
considerados necessários, Barros disse que não quer interferir na
capacidade de tomada de decisões dos médicos.
"Mas os médicos não podem pedir exame como forma de transferir sua responsabilidade de emitir diagnósticos", afirmou.
"Os exames só devem ser usados quando há necessidade, não como rotina
para diminuir a responsabilidade que o médico tem de fazer um
diagnóstico a partir dos elementos clínicos."
'Tarefa impossível'
Durante sua fala na Brazil Conference, o ministro disse que os médicos
da rede pública não estão atentos aos custos dos procedimentos que
solicitam para seus pacientes.
"Temos muitos problemas em ajustar o médico como uma peça do sistema, e
não como o centro do sistema. O médico tem uma visão que é fruto do
compromisso que faz quando se forma, que é estar acima da questão
pragmática, dos recursos."
Ele explicou a fala à BBC Brasil. "Ao médico, cabe solicitar os meios
para salvar uma vida, e ao gestor cabe disponibilizar aqueles que são
possíveis de serem disponibilizados."
"A integralidade não pode ser o 'tudo do SUS para todos'. Eu sou gestor
do SUS. Enquanto for tudo para todos, infelizmente, será uma tarefa
impossível."
O ministro afirmou ainda que a ideia de integralidade (oferta
irrestrita de exames e tratamentos) na rede pública atrapalha a
universalidade (atendimento a todos os brasileiros) no SUS.
Desde que assumiu o cargo, em maio de 2016, Barros, que é deputado
federal licenciado pelo PP do Paraná, vem defendendo o enxugamento de
gastos do SUS, já que em algum momento o país não teria mais como bancar
direitos que a Constituição garante, como acesso universal à saúde.
Nesse sentido, já se manifestou, por exemplo, a favor da criação de
planos de saúde "populares", mais baratos por oferecerem menos serviços
do que a cobertura mínima prevista pela ANS (Agência Nacional de Saúde
Suplementar), Seria, segundo ele, uma forma de desafogar o sistema
público e contribuir com o financiamento do SUS.
"É a integralidade, que é o atendimento integral do cidadão, contra a
universalidade. O atendimento integral retira recursos que têm que ser
aplicados no atendimento a todos os demais", afirmou nos EUA.
'Publicidade e eficiência'
Em sua fala de abertura, Barros disse à plateia formada também por
médicos, defensores públicos, advogados e gestores de serviços de saúde
que sua pasta preza pelo investimento em publicidade.
"Publicidade e eficiência são as marcas da minha gestão", disse, sem informar valores.
Um dos principais projetos anunciados por Barros é a informatização do
sistema público de saúde, proposta antiga mas nunca implantada no país.
"Investimos por ano US$ 230 bilhões em serviços públicos de saúde no Brasil", disse Barros à BBC Brasil.
"Espero que, quando completada a informatização, economizemos 20%
desses recursos, porque o médico, tendo todo o histórico de saúde do
paciente, terá mais clareza (nos diagnósticos)."
Nenhum comentário :
Postar um comentário