quarta-feira, 26 de abril de 2017

Domingo, 23/04/2017, às 06:00,

Sexo depois dos 50: mulheres perdem libido; homens com falhas de ereção


Psiquiatra Carmita Abdo, especialista em sexualidade, dá entrevista para Globonews
A psiquiatra Carmita Abdo coordenou os maiores estudos sobre sexualidade já realizados no Brasil. Doutora e livre-docente pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, fundou e coordena o Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP. 

Autora de oito livros, é também presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria. 

Nossa conversa sobre sexo na maturidade foi tão ampla e rica que rendeu duas colunas. Nesta primeira, falamos dos principais problemas depois dos 50: para elas, a perda da libido; para eles, a má qualidade da ereção. Com a palavra, dra. Carmita!

PERDA DA LIBIDO:
“A menopausa exerce um impacto muito grande sobre a mulher. Não fomos feitas para viver sem hormônios. Na ausência do estrógeno, a lubrificação da vagina fica prejudicada e a mulher pode, consequentemente, sentir dor na relação sexual. Há outros prejuízos: para os ossos, os músculos, a cognição. A reposição hormonal é medida de saúde precedida de orientação médica, mas não pode ser descartada. 

Também é preciso estar atenta à depressão, que aumenta sua incidência depois da menopausa. Neste caso, a mulher não se interessa por sexo, como também não quer se cuidar e se isola. Na verdade, é uma falta de interesse geral pela vida! No consultório, é frequente atender pacientes que não querem tomar antidepressivos, alegando que o remédio vai interferir negativamente na libido. Isso realmente pode acontecer, mas apenas durante o tratamento, enquanto que, se a depressão não for tratada, a falta de desejo sexual será mantida como consequência da depressão.”

POR QUE A MULHER PARECE SE INTERESSAR MENOS POR SEXO:
“A maioria das mulheres se empenha mais durante a sedução, no desafio da conquista. Algumas ficam, então, satisfeitas e abrem mão do prazer do ato sexual. Talvez por dificuldades pessoais, talvez devido a parceiros apressados ou inábeis. Ou até por desconhecimento delas, ou seja, porque não sabem como fazer o próprio corpo reagir ou não conseguem relaxar. Na atualidade, vivemos relações-relâmpago, com ainda menos chance de a mulher ter seu corpo pronto para a penetração, pois as preliminares nem sempre são suficientes ou satisfatórias. O sexo contextualiza a sociedade contemporânea, onde tudo acontece de forma rápida e descompromissada. Por outro lado, os homens adorariam ser informados sobre o que agrada às mulheres na cama. É o que ouço deles o tempo todo. No entanto, ainda parece estranho ou desconfortável para as mulheres falarem sobre o seu prazer sexual ou guiarem seus parceiros para o que dá prazer a elas. Algumas se referem a ser constrangedor falar, porque pode parecer que o parceiro não é eficiente e não ‘se garante’, a menos que seja conduzido. Puro machismo feminino. 

Ela prefere realizar um ato sem qualquer ganho pessoal, a correr o risco de ele se sentir pouco habilidoso. Vale a pena falar e dar a ele a oportunidade de fazer melhor.”

NOS HOMENS, PROBLEMAS DE EREÇÃO:
“Apesar do tamanho do pênis ser um grande fantasma na vida sexual dos homens, a qualidade da ereção (a qual começa a entrar em declínio a partir dos 45 anos) é ainda maior. Os medicamentos que promovem a ereção são eficazes, mas se o homem viveu boa parte de sua vida com o problema, certamente complicou o quadro com o prejuízo de sua autoestima. Nesse caso, a eficácia da medicação poderá estar comprometida e ele necessitará também de uma terapia sexual. O medicamento age na fase de excitação, o que significa que o desejo deve estar preservado para o efeito ocorrer. De modo geral, os homens não fazem prevenção e encaram o agendamento de uma consulta médica como sinal de fragilidade. No entanto, as doenças, quando prevenidas, ajudam a preservar a ereção na idade avançada. Se, por exemplo, todos os homens fizessem exame da próstata a partir dos 40 anos, teríamos uma diminuição drástica dos índices de câncer avançado e de cirurgias radicais, uma das causas de perda da ereção.”

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