Sexo depois dos 50: mulheres perdem libido; homens com falhas de ereção
A psiquiatra Carmita Abdo coordenou os maiores estudos sobre sexualidade já realizados no Brasil. Doutora e livre-docente pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, fundou e coordena o Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP.
Autora de oito livros, é também presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Nossa conversa sobre sexo na maturidade foi tão ampla e rica que rendeu duas colunas. Nesta primeira, falamos dos principais problemas depois dos 50: para elas, a perda da libido; para eles, a má qualidade da ereção. Com a palavra, dra. Carmita!
PERDA DA LIBIDO:
“A
menopausa exerce um impacto muito grande sobre a mulher. Não fomos
feitas para viver sem hormônios. Na ausência do estrógeno, a
lubrificação da vagina fica prejudicada e a mulher pode,
consequentemente, sentir dor na relação sexual. Há outros prejuízos:
para os ossos, os músculos, a cognição. A reposição hormonal é medida de
saúde precedida de orientação médica, mas não pode ser descartada.
Também é preciso estar atenta à depressão, que aumenta sua incidência
depois da menopausa. Neste caso, a mulher não se interessa por sexo,
como também não quer se cuidar e se isola. Na verdade, é uma falta de
interesse geral pela vida! No consultório, é frequente atender pacientes
que não querem tomar antidepressivos, alegando que o remédio vai
interferir negativamente na libido. Isso realmente pode acontecer, mas
apenas durante o tratamento, enquanto que, se a depressão não for
tratada, a falta de desejo sexual será mantida como consequência da
depressão.”
POR QUE A MULHER PARECE SE INTERESSAR MENOS POR SEXO:
“A
maioria das mulheres se empenha mais durante a sedução, no desafio da
conquista. Algumas ficam, então, satisfeitas e abrem mão do prazer do
ato sexual. Talvez por dificuldades pessoais, talvez devido a parceiros
apressados ou inábeis. Ou até por desconhecimento delas, ou seja, porque
não sabem como fazer o próprio corpo reagir ou não conseguem relaxar.
Na atualidade, vivemos relações-relâmpago, com ainda menos chance de a
mulher ter seu corpo pronto para a penetração, pois as preliminares nem
sempre são suficientes ou satisfatórias. O sexo contextualiza a
sociedade contemporânea, onde tudo acontece de forma rápida e
descompromissada. Por outro lado, os homens adorariam ser informados
sobre o que agrada às mulheres na cama. É o que ouço deles o tempo todo.
No entanto, ainda parece estranho ou desconfortável para as mulheres
falarem sobre o seu prazer sexual ou guiarem seus parceiros para o que
dá prazer a elas. Algumas se referem a ser constrangedor falar, porque
pode parecer que o parceiro não é eficiente e não ‘se garante’, a menos
que seja conduzido. Puro machismo feminino.
Ela prefere realizar um ato
sem qualquer ganho pessoal, a correr o risco de ele se sentir pouco
habilidoso. Vale a pena falar e dar a ele a oportunidade de fazer
melhor.”
NOS HOMENS, PROBLEMAS DE EREÇÃO:
“Apesar
do tamanho do pênis ser um grande fantasma na vida sexual dos homens, a
qualidade da ereção (a qual começa a entrar em declínio a partir dos 45
anos) é ainda maior. Os medicamentos que promovem a ereção são
eficazes, mas se o homem viveu boa parte de sua vida com o problema,
certamente complicou o quadro com o prejuízo de sua autoestima. Nesse
caso, a eficácia da medicação poderá estar comprometida e ele
necessitará também de uma terapia sexual. O medicamento age na fase de
excitação, o que significa que o desejo deve estar preservado para o
efeito ocorrer. De modo geral, os homens não fazem prevenção e encaram o
agendamento de uma consulta médica como sinal de fragilidade. No
entanto, as doenças, quando prevenidas, ajudam a preservar a ereção na
idade avançada. Se, por exemplo, todos os homens fizessem exame da
próstata a partir dos 40 anos, teríamos uma diminuição drástica dos
índices de câncer avançado e de cirurgias radicais, uma das causas de
perda da ereção.”
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