quarta-feira, 26 de abril de 2017

Terça-feira, 25/04/2017, às 06:00,

Estamos vivenciando uma segunda revolução sexual, diz Carmita Abdo

Na coluna anterior, a psiquiatra Carmita Abdo falou dos principais problemas enfrentados por homens e mulheres depois dos 50 anos. Na segunda parte do nosso papo, ela ensina como manter a intimidade mesmo com o passar dos anos e afirma que estamos vivenciando uma nova revolução sexual. A doutora Carmita coordena o Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP e esteve à frente dos maiores estudos sobre o tema já realizados no Brasil. Autora de oito livros, é também presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria.

COMO RESGATAR A INTIMIDADE QUE O CASAL PERDEU
“Quando o sexo sempre ‘fica para amanhã’, é sinal de que já não é tão bom assim. É esperado que, depois de anos de convivência, a paixão não seja a mesma. Além disso, ainda que o casal tenha muito amor, há mágoas e ressentimentos do dia a dia para superar. Por outro lado, a mulher pode não estar satisfeita com o seu corpo, ou se desinteressou do sexo, porque já sabe que seu parceiro não vai lhe dar o tempo necessário para ela atingir o seu prazer. Ela se resigna e não cuida do físico, nem alerta o parceiro para buscar tratamento para sua dificuldade sexual. Isso explica, em parte, o grande consumo de conteúdo pornográfico na internet, que vem crescendo inclusive entre as mulheres. O ideal é manter o fluxo contínuo: não deixar de fazer sexo com regularidade, não deixar de compartilhar os sentimentos positivos, mas também os negativos, e assim alimentar a intimidade. É isso que faz com que o enamoramento se atualize: é como se preservássemos na memória e nas sensações físicas o (a) parceiro (a) da época em que nos apaixonamos, renovando continuamente a relação. Deixar que esta chama se apague (por cansaço, outras prioridades, rotina, falta de tempo ou rancor) pode complicar a retomada, sendo inclusive necessária então a ajuda de um terapeuta.”

LONGEVIDADE E SEXO
“A longevidade produziu um grande impacto sobre o sexo, principalmente no que diz respeito às mulheres, que antes encerravam sua atividade sexual por volta dos 40 ou 50 anos. Vale lembrar que, quando a expectativa de vida era menor, em torno dos 50 anos (o que ocorria até o início do século 20), a mulher não chegava à menopausa, pois essa condição a atingiria depois da idade limite da vida. O sexo para a mulher tinha o objetivo de gerar filhos. Daí ser dispensado após já ter cumprido essa finalidade. Agora a situação é diferente. Ganhamos décadas de vida e ninguém mais estabelece uma união estável apenas para produzir filhos em série. Até porque vamos viver 30, 40, 50 anos além da menopausa. Portanto, o sexo que a mulher pratica ampliou o seu significado nas últimas décadas: prazer e alívio de tensão, além da reprodução. Mas exige cuidados com a saúde física e mental para poder ser usufruído com satisfação, na terceira e quarta idades.”

SEXO DE RISCO
“Vivemos uma época de grande risco nas relações sexuais. A mulher negligencia a proteção no sexo: para não desagradar ao parceiro, não exige o uso do preservativo, da camisinha. Consequentemente, as doenças sexualmente transmissíveis aumentaram sua incidência, a sífilis voltou com força total, o número de casos de Aids cresceu em todas as faixas etárias. Contatos sexuais entre desconhecidos, associados a cuidados preventivos ‘zero’ representam uma mistura explosiva contra a saúde, a qualidade de vida e, em alguns casos, ameaçam a própria vida.”

UMA SEGUNDA REVOLUÇÃO SEXUAL
“Acredito que estamos no auge de uma nova revolução sexual, cuja marca é a diversidade e a possibilidade de experimentação, o que conduz cada pessoa à sua identidade e aos parceiros mais adequados. Em outras palavras: a autorização social para experimentar pode favorecer as mulheres, porque dá oportunidade para que obtenham maior autoconhecimento de seus corpos e comparem as habilidades sexuais de seus (suas) parceiros (as), façam escolhas e completem a primeira revolução sexual. Essa é uma conquista consciente da liberdade para o sexo que se quer e se pode realizar. Normatizar a atividade sexual é impossível, além de inútil. Não há duas pessoas que vivam a sexualidade da mesma forma. Deixar de lado o falso pudor, sem abrir mão do sexo seguro e respeitando os próprios limites e os limites alheios, torna a vivência da sexualidade menos hipócrita.” 

Fonte: http://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/estamos-vivenciando-uma-segunda-revolucao-sexual-diz-carmita-abdo.html

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