quarta-feira, 5 de abril de 2017

Ciclo da febre amarela no ES está previsto para acabar no fim do ano, diz especialista

Informação é do infectologista e professor da Ufes, Aloísio Falqueto. Ele integra uma força-tarefa que estuda o surto de febre amarela no estado.

 
O ciclo da febre amarela tem previsão de acabar até o fim do ano no Espírito Santo. Segundo o infectologista Aloísio Falqueto, a parte mais crítica da doença no estado já passou, porque a maior parte da população está imunizada. No entanto, a força de transmissão nas matas é grande. Nesta terça-feira (28), o governo do estado registrou um boletim com a 1ª morte por febre amarela na região metropolitana. Foi na zona rural de Cariacica. 

“A nossa previsão é que acabe até o final do ano, a força de transmissão. Desde o momento que ela chegou ao Espírito Santo em Irupi até chegar no extremo leste, em Cariacica, foram 4 semanas, então varreu toda a mata do estado. Isso indica uma força de transmissão muito intensa”, disse o infectologista, que também é professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). 

Segundo Falqueto, é possível dizer que todos os macacos nas matas foram infectados com a doença. “Uma parte morreu e os sobreviventes ficaram imunizados. Então, os mosquitos que foram infectados vão morrer. 

Em 4 a 8 semanas eles morrem. Então a nova geração de mosquitos não vai ter fonte de infecção, não vai ter mais macaco com vírus no sangue. Então a tendência é se extinguir. A gente não pode prever seguramente, nós calculamos que até o final do ano esse ciclo vai se extinguir”, completou. 

Atualmente, há apenas a transmissão silvestre da doença. Falqueto disse que a possibilidade de um surto urbano é remota. 

“A gente esperava a transmissão no ambiente urbano, mas o Aedes aegypti é um mal transmissor, precisa de uma população muito grande. Nós temos febre amarela urbana na África, nos últimos dois três anos, mas lá a concentração de mosquitos é muito maior que aqui. Aqui, temos 5% de infestação predial, ou seja, de 100 casas, 5 tem focos do aedes. Isso no verão, nas áreas periféricas, é o máximo que se consegue. Lá para se ter uma ideia o índice é de 15 a 40%. É um caos, então por isso não é suficiente para disseminar o vírus”, afirmou.

Casos

De acordo com os boletins divulgados pela secretaria de Saúde do Espírito Santo (Sesa), os casos confirmados da doença estão concentrados nas regiões Serrana, Sul e Noroeste do estado. 

O infectologista explicou que o vírus chegou no Espírito Santo pela mata e se alastrou por onde conseguiu nessa região e é transmitido por duas espécies de mosquito: Sabethes e Haemagogus.
“Eles aparecem na mata, não saem da mata. Por exemplo, se tem uma mata e ao lado uma pastagem, se você ficar 10 metros fora da mata eles não te atacam. São tipicamente silvestres. Na mata eles atacam as pessoas no solo e mais ainda na copa das árvores. Se você ficar na copa você atrai muitas picadas”, disse.
Ele explicou ainda que, embora exista mata em vários pontos do estado, a área urbana da Grande Vitória e a região Norte do estado são áreas isoladas do ponto de vista epidemiológico. Isso significa que as áreas não são ligadas por mata como ocorre na região Sul e Serrana. 

“As pessoas perguntam, mas aqui na Fonte Grande, no Morro do Moreno, a gente pode ter esse tipo de mosquitos? Lógico. Qualquer fragmento de mata eles estão lá, só que aqui no maciço central da ilha de Vitória, temos macacos, tem mosquitos, mas não tem como vírus chegar até aqui. A não ser que tenha uma pessoa maluca vai lá para a montanha sem vacinar e volte para introduzir o vírus ali. Uma pessoa é suficiente para fazer isso”, explicou.

Origem do vírus

O vírus da febre amarelo tem origem na África e existia, em um primeiro momento da história, entre animais silvestres. Há mais ou menos 4 séculos, as tribos africanas entrando na mata levaram a febre amarela para a área urbana onde já existia o Aedes aegypti, inseto de distribuição universal. 

A febre amarela urbana acabou dispersando pelo mundo. Os colonizadores ingleses, holandeses, portugueses e espanhóis ao fazer o transporte dos escravos levaram o vírus pelos navios. 

Com isso, a febre amarela chegou até a Península Ibérica, México, Estados Unidos e Brasil. “Não se sabia o que era quando chegou, só se conhecia a entidade clínica, mas em 1885 se definiu que o Aedes era o responsável por transmitir a febre amarela urbana. O vírus começou a ser combatido e em 1942 a febre amarela urbana foi erradicada”, disse o infectologista Aloísio Falqueto. 

O vírus também foi introduzido na Amazônia e Mata Atlântica. “Aqui por ser uma área muito limitada de Mata Atlântica, um espaço geográfico pequeno, e com o desmatamento acabou extinguindo o ciclo. E na Amazônia continua até hoje. Por isso é uma área de risco. Agora, uma pessoa veio da Amazônia sem vacinar, trouxe o vírus, entrou na mata e reiniciou toda a história antiga”, explicou o especialista.

Pesquisas

O infectologista Aloísio Falqueto, junto com uma equipe de técnicos e biólogos, está pesquisando o surto da febre amarela no Espírito Santo. O grupo já começou a coletar os mosquitos da região de mata na divisa com Minas Gerais. 

Ao fim da pesquisa, que deve durar dois anos, eles querem responder as seguintes perguntas: quais as espécies que transmitem o vírus no interior da mata; qual o comportamento desses insetos; e quando esse ciclo vai se extinguir. 

"Cada etapa tem um processo, estamos na primeira etapa. Nós tínhamos que coletar na terceira e quarta semana após a morte dos macacos, coletar o máximo possível em municípios que representam as diversas regiões climáticas do estado. Aí é entrar na mata e coletar o que puder, o máximo possível", explicou. 

O grupo já coletou mais de 6.300 mosquitos das matas do estado. Esse material está congelado e será levado para o Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) para análises. Isso porque só dois institutos brasileiros tem a tecnologia necessária para examinar o mosquito, segundo Falqueto.

"Nós coletamos 6.300 insetos que estão guardados em Nitrogênio. Temperatura de 196 graus abaixo de zero. É a maneira de conservar o material, porque ali depois eu tenho que identificar a espécie do mosquito e ao mesmo tempo ver se ele está infectado com vírus. Só que isso tem que ser feito em uma placa gelada, porque se eu examinar o mosquito em temperatura ambiente vai degradar o material genético do vírus e eu vou perder a chance de mostrar se ele está infectado. Essa tecnologia só o Instituto Oswaldo Cruz e o Instituto Evandro Chagas que têm. Então nós fazemos essa primeira parte e depois complementamos todo o trabalho", completou. 

Em um primeiro momento, a pesquisa já identificou que o número de mosquitos é grande e que a força de transmissão é intensa. 

"Nós calculamos o número de picadas por hora, que é a força de transmissão. O rendimento indica que se eu ficar 1 hora dentro da mata eu posso tomar 25 picadas. É uma força muito intensa. São vários tipos de mosquito e ali nós vamos ver qual espécie que nós encontramos infectados e quantas vezes ele pica uma pessoa em uma hora. Para determinar a força de transmissão, depois vamos fazer um estudo sobre a espécie encontrada. Ele fica só dentro da mata? Eles saem nas florestas secundárias? Entre outras perguntas", concluiu o pesquisador. 

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