terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

DOENÇA CELÍACA


O que é ?
A Doença Celíaca (DC) é uma enfermidade do Intestino Delgado, hoje considerada comum. É disparada e mantida pelo Glúten, uma proteína presente no trigo, centeio e cevada, e ocorre em indivíduos geneticamente predispostos.
No intestino existem as vilosidades, que são dobras microscópicas da mucosa e que servem para promover uma maior superfície de absorção dos alimentos. São também a sede de células com funções especializadas na digestão.
O contato do glúten com a mucosa determina inflamação e um encurtamento/ achatamento das dobras intestinais, com consequente diminuição da digestão e da absorção, podendo produzir sintomas e resultando no quadro clínico. Os pacientes apresentam vários graus de inflamação intestinal e atrofia das vilosidades.
Considerando a Europa e os EUA, a doença pelo glúten pode ocorrer em uma de cada 100 a 200 pessoas. No Brasil, acreditamos haver uma prevalência semelhante a das regiões referidas.
Parentes de primeiro grau podem apresentar a mesma DC, ainda que com sintomas pouco chamativos. Vale identificá-los para prevenirem as fases de mais sintomas ou mesmo as complicações no longo prazo.
A diarreia ocorre em proporção significativa de pacientes, mostrando-se crônica, ou seja, durando mais de três ou quatro semanas. Aceita-se que a doença pode permanecer com sintomas mínimos e ocasionais durante longos períodos da vida. Bem antes destas manifestações clínicas mais visíveis, as pessoas com intolerância ao glúten podem se queixar de várias dificuldades inespecíficas, por exemplo, desconforto abdominal, flatulência, aftas bucais e, paradoxalmente, constipação.
Como se desenvolve ?
As evidências clínicas e os índices laboratoriais variam de manifestação alguma (DC Silenciosa) até importante resposta imunológica e de desnutrição calórico-proteica.
Pacientes com poucos sintomas (DC Oligossintomática) podem apresentar anemia e osteoporose, por exemplo, comprometendo o bem-estar e a qualidade de vida.
A DC Atípica é caracterizada por sintomas extra-intestinais como artrite, infertilidade, alterações hepáticas, neurológicas e psiquiátricas de variados graus.
A doença pode aparecer ou se manifestar em qualquer idade. Na criança, pode aparecer logo após iniciar o uso de cereais com glúten em sua alimentação, levando até a deficiências no seu desenvolvimento.
A diarreia ocorre em proporção significativa de pacientes, mostrando-se crônica, ou seja, durando mais de três ou quatro semanas. Aceita-se que a doença pode permanecer com sintomas mínimos e ocasionais durante longos períodos da vida. Bem antes destas manifestações clínicas mais visíveis, as pessoas com intolerância ao glúten podem se queixar de várias dificuldades inespecíficas, por exemplo, desconforto abdominal, flatulência, aftas bucais e, paradoxalmente, constipação.
O que se sente ?
Diarreia é a evidência mais chamativa, ainda que não necessariamente a primeira.
São queixas ou constatações:
 
fezes fétidas, claras, volumosas, sobrenadantes, com ou sem gotas de gordura;
distensão abdominal por gases, cólicas, náuseas e vômitos;
dificuldade de adquirir peso e facilidade para perdê-lo;
baixa estatura;
fraqueza geral;
modificação do humor, dificuldade para um sono reparador;
alterações na pele;
fraqueza das unhas, queda de pelos;
anemia por deficiente absorção do ferro e da Vitamina B 12;
alterações do ciclo menstrual;
diminuição da fertilidade;
inchaço dos membros inferiores;
osteoporose.
É interessante a observação de que sintomas da infância podem desaparecer na adolescência, para reaparecer na maturidade ou mesmo na velhice.
Como o médico faz o diagnóstico ?
Quando a história clínica é rica, a hipótese de Doença Celíaca surge naturalmente. Em certos ambientes, é válido testar o diagnóstico usando uma dieta isenta de glúten, por 2 a 3 meses: se o paciente melhorar com a suspensão e piorar com a re-introdução do glúten na alimentação, pode-se considerar uma confirmação diagnóstica.
Uma escalada de exames de sangue, fezes e de imagem, incluindo biópsia endoscópica duodenal por endoscopia, poderá ser necessária rumo ao diagnóstico: a observação de achatamento das vilosidades e o aumento da presença de Linfócitos Intra-Epiteliais na mucosa propõe fortemente o diagnóstico de Doença Celíaca.
A franca positividade dos Anticorpos Anti-Transglutaminase Tecidual (Anti - tTG) no sangue, tem importante valor diagnóstico.
A predisposição genética pode ser testada pela verificação dos alelos DQ2 e DQ8 em exame de sangue. Sua presença não faz o diagnóstico de DC, enquanto que a sua ausência, praticamente, exclui a possibilidade do paciente ter Doença Celíaca.
O diagnóstico diferencial deve ser feito com Doença de Crohn, Super-crescimento Bactérico Intestinal, Gastroenterite Eosinofílica, Espru Tropical, Linfoma do Intestino Delgado, Intolerância à Lactose e Síndrome de Zollinger-Ellison.
Há a possibilidade de encontrarmos uma associação com: Dermatite Herpetiforme, Diabete Tipo I, Retocolite Ulcerativa, Tireoidite Auto-Imune, Colangite Esclerosante, Síndrome de Sjöegren, Cirrose Biliar Primária, Alopecia Auto-imune.
A Doença Celíaca tem sido estudada com outras alterações não explicadas nas áreas neurológica e psiquiátrica, como Ataxia Cerebelar, Neuropatia Periférica e, mesmo, Esquizofrenia e Autismo.
É possível que o Linfoma Intestinal de Células T tenha maior chance de desenvolver-se nos portadores de DC que não fazem a dieta, intencionalmente, ou por não se saberem com a enfermidade. Também ocorre naqueles 5 a 10% de doentes celíacos que passam a não responder à dieta isenta de glúten (refratários).
Como se trata?
Pela definitiva abstinência de alimentos que contém Glúten e pela reposição de tudo que possa resultar da deficiência da absorção intestinal. A ajuda de Nutricionista está indicada.
É preciso evitar a ingestão de qualquer quantidade, ainda que mínima, de alimentos contendo glúten (trigo, cevada, centeio). Como é um processo semelhante a uma alergia, qualquer mínima quantidade pode ser suficiente para manter a doença ativa.
Todo rigor é necessário na preparação dos alimentos, a fim de evitar contaminações involuntárias com o glúten. Por exemplo, em um churrasco onde será servido pão, a mesma travessa não deve ser usada para servir a carne a um portador de doença celíaca.
Da mesma forma, ainda que batatas (fritas) não contenham glúten, elas não devem ser preparadas no mesmo óleo onde pastéis ou outros alimentos com glúten o foram. Quem prepara, deve estar ciente da importância dos cuidados com o trato dos alimentos sem glúten.
O portador não deve consumir o alimento no qual não tenha confiança de que tenha sido adequadamente preparado sem glúten.
Ainda que, inicialmente, a dieta exija muito dos pacientes, com o passar do tempo, portador e família, adaptam-se bem, passam a conhecer fornecedores e restaurantes de alimentos sem glúten, aprendem ótimas receitas e a substituição do glúten por opções. Após um período de adaptação os pacientes passam a ter ótima qualidade de vida.
Terapias novas estão sendo investigadas através de várias linhas de pesquisa, incluindo a imunológica e a genética. Também estão em estudo modificações nos cereais com glúten. Por ora, não estão demonstradas e não são aplicáveis.
Como se previne?
Exceto por não comer alimento que contenha glúten, não se conhece prevenção.
Perguntas que você pode fazer ao seu médico
Posso ter vida normal se tiver os cuidados com a alimentação?
Como posso saber se posso ou não comer determinado alimento?
Tenho risco de outras doenças por causa dessa?
Existem exames de sangue que ajudem no diagnóstico?
Para que serve a endoscopia nesse caso?
Outras pessoas da família têm também risco de ter essa doença?
Essa doença tem cura?
Fonte: http://www.abcdasaude.com.br/gastroenterologia/doenca-celiaca

Exames
Anti-transglutaminase and Celiac Disease
  • Anticorpos Anti-Transglutaminase IgG, IgM e IgA - A Transglutaminase tecidual (tTG) tem sido identificada com o principal auto-antígeno na doença celíaca. A tTG pertence a diversas famílias de enzimas dependentes de cálcio que catalisam a formação de proteínas. A tTG se encontra amplamente distribuída nos órgãos humanos, estando associada com fibras que revestem a musculatura lisa e as células endoteliais. A tTG tem participação no mecanismo da matrix extra-celular e reparação tecidual, sendo que as gliadinas do trigo podem atuar como substrato para a reação da transglutaminase. Em casos de injúria tecidual, como a que ocorre na mucosa intestinal de pacientes com doença celíaca não tratada, os níveis de tTG se elevam. Os anticorpos IgA anti-transglutaminase são marcadores altamente específicos para a doença celíaca e dermatite herpetiforme.
Realiza-se por técnica imunoenzimática. Apresenta elevada sensibilidade e especificidade, especialmente quando o antígeno empregado no ensaio é de origem humana (tabela).
Exame [mnemônico]Material [mnemônico]
ANTICORPOS ANTI TRANSGLUTAMINASE TECIDUAL IGG [TRAN-G]SANGUE  [S]
Última atualização: 24/11/2014 15:12:37
Palavras chaves
Anticorpos anti transglutaminase tecidual IgG
Doença celíaca
TTG
Anti glúten
Condições

- Soro.
Volume recomendável

- 1,0 mL.
Tempo de jejum

- Jejum obrigatório de 8 horas.
- Intervalo máximo entre as mamadas para lactentes.
Conservação

- Até 5 dias refrigerado entre 2 e 8 ºC, ou congelado a -20 ºC por 6 meses.
Comentários

A prevalência de deficiência seletiva de IgA em pacientes com doença celíaca (DC) é cerca
de 10 a 20 vezes maior do que na população geral, motivo pelo qual recomenda-se a dosagem
de IgA em todo paciente com suspeita de DC. Na vigência de deficiência de IgA a pesquisa
de anticorpos anti-transglutaminase tecidual da classe IgA (anti-TTG IgA) frequentemente é
negativa. Nesta situação, deve-se solicitar a pesquisa de anticorpos anti-TTG da classe
IgG (anti-TTG IgG), o qual apresenta sensibilidade entre 90% a 95% e especificidade entre
94% e 100%. A pesquisa de anti-TTG IgG não deve ser realizada em pacientes com níveis
séricos normais de IgA, visto que nestes pacientes o desempenho diagnóstico do teste é
ruim, com sensibilidade de 78% e especificidade de 89%.
Formato de resultado
   METODO: IMUNOENSAIO ENZIMATICO
   RESULTADO:        U/mL
   VALOR DE REFERENCIA: NAO REAGENTE: INFERIOR A 10 U/mL

Abreviaturas
COMConforme Orientação Médica
JOJejum Obrigatório
LTBLimite de Tolerância Biológica
IBMPÍndice Biológico Máximo Permitido
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1519-38292012000200002&script=sci_arttext
Métodos
O estudo foi realizado no período de setembro de 2008 a abril de 2009. Os participantes do estudo eram estudantes de graduação do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
O recrutamento foi realizado após uma campanha de divulgação com o tema: "Doença Celíaca: você pode ter e não saber", abrangendo os diversos aspectos e potenciais complicações da DC, veiculada por meio de email, panfletos, banner e abordagem direta. Seiscentos e oitenta e três estudantes aceitaram participar da pesquisa. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do CCS da UFPE e todos os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido que lhes garantiu o cumprimento das normas da resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde. Os estudantes com sorologia positiva foram encaminhados para prosseguir na investigação para DC e acompanhamento médico especializado.
Os participantes responderam a um questionário estruturado que investigava sintomas sistêmicos (perda ou dificuldade de ganho de peso), gastrintestinais (dor e distensão abdominal, empachamento, diarreia, náuseas, vômitos e constipação), não gastrointestinais (dor articular, fadiga, aftas, irritabilidade, insônia e alopecia) e condições mórbidas associadas à DC (anemia, doenças tireoidianas, depressão, epilepsia, dermatite herpetiforme e doenças reumatológicas) e foram submetidos à punção venosa para coleta de 3 mL de sangue em tubo seco para obtenção de soro, posteriormente congelado a -20˚C.
A pesquisa do anticorpo antitransglutaminase IgA humano (tTG) foi realizada por meio do kit Biocard Celiac Disease Stick, Ani Biotech Oy, Vtao, Finland®,  considerando como positivo o valor de 10 U/mL conforme recomendado pelo fabricante. Nos pacientes com tTG positivo foi realizado pesquisa do EMA, por imunofluorescência indireta, por meio do kit Antiendomysium®96 do Laboratório Eurospital, Trieste, Itália.
As frequências estão descritas em porcentagem com os seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%) e as idades em mediana e percentis (P25-P75). Utilizou-se o teste do qui-quadrado e Fisher para testar diferenças entre as frequências. Considerou-se o valor do p<0,05 como estatisticamente significante. Os dados foram armazenados e analisados usando o software EpiInfo 6.04.
Resultados
Foram analisados dados de 683 estudantes com idade variando entre 18 e 30 anos, mediana de 21 anos (P25: 20; P75: 23) sendo 61,2% do sexo feminino e 32,0% do sexo masculino (p<0,05).
O tTG foi positivo em doze estudantes (1,76%, IC95%: 0,95; 3,13%). Nesses doze indivíduos o tTG apresentou valores séricos entre 10,2 U/mL e >200 U/mL (mediana de 13,31 U/mL). Em um dos estudantes com tTG positivo não foi possível realizar EMA por amostra insuficiente e recusa a repetir a coleta. A sorologia para EMA foi positiva em quatro dos 11 estudantes com tTG positiva (4/683).
Dentre os doze estudantes soropositivos para a tTG, dois não registraram seus dados no formulário, embora concordassem em que o resultado da sorologia fosse divulgado. Por esse motivo o sexo, a idade e os sintomas desses pacientes não puderam ser avaliados. Os valores de tTG e EMA assim como, as características dos demais pacientes com tTG positivo estão descritas na Tabela 1.
http://www.scielo.br/img/revistas/rbsmi/v12n2/a02tab01.jpg 

Ambos os testes (anticorpos anti-endomísio e anti-transglutaminase) raramente apresentam resultados falso-positivos, mas resultados falso-negativos são descritos em casos de enteropatia leve, pacientes com deficiência de IgA e crianças menores de 2 anos.
Além de auxiliarem no diagnóstico, a pesquisa e titulação dos anticorpos é muito útil no seguimento terapêutico, pois com a retirada total dos alimentos contendo glúten os níveis de anticorpos se reduzem ou se negativam, cerca de 3-6 meses após início da dieta. Uma ascensão nos níveis de anticorpos indica que o paciente de alguma forma não está obedecendo a prescrição alimentar.
  •  Anti-Endomísio (EMA) IgA - Altamente específico (100%, sendo o teste de preferência para o "screening" de Doença Celíaca. O teste ELISA apresenta maior sensibilidade do que o por imunofluorescência.
Realiza-se por técnica de imunofluorescência indireta, tendo como substrato cordão umbilical humano. A transglutaminase, enzima-alvo da resposta auto-imune na doença celíaca, é o antígeno-alvo. A desvantagem deste teste é que é muito trabalhoso e necessita de pessoal qualificado para a leitura da imunofluorescência (tabela). 
  • Anticorpos Anti-Gliadina (AGA) IgG e IgA - O teste IgC é sensível, mas pouco específico, enquanto o IgA é específico, mas pouco sensível.Quando usados em conjunto possuem especificidade de 80% e sensibilidade de 95%.
  • Anticorpos Anti-Reticulina - Aproximadamente 60% dos pacientes com doença celíaca possuem positividade para este anticorpo.

Tabela – Testes sorológicos para o diagnóstico de doença celíaca
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Fonte: http://www.acelbramg.com.br/?q=node/10
Fonte: http://www.fenacelbra.com.br/acelbra_rj/profissionais-e-hospitais/laboratorios/

Biópsia intestinal: O intestino delgado apresenta vilosidades achatadas, hiperplasia das criptas e grande quantidade de linfócitos infiltrando a camada de células epiteliais.
Descrição dos casos
Caso 1
Paciente do sexo feminino, com 36 meses de idade, apresentava queixa de constipação desde os 18 meses. Era acompanhada no serviço de Ortopedia do Hospital São Paulo devido à história de torcicolo crônico recidivante (sic). Como apresentava concomitantemente queixa de constipação crônica, foi encaminhada ao serviço de Gastroenterologia Pediátrica da mesma instituição. Segundo a mãe, a partir dos 18 meses a menor passou a ter dificuldade para evacuar, caracterizada por eliminação de fezes endurecidas, de formato cilíndrico, com rachaduras e espessura aumentada. A paciente fazia esforço e sentia dor para evacuar e, em algumas ocasiões, apresentava sangue vivo rutilante em fio de linha recobrindo as fezes. Devido a esses sintomas, fazia uso frequente de lactulose em baixas doses, sem sucesso e, periodicamente, supositório de glicerina.
A paciente recebeu aleitamento natural exclusivo até os seis meses de idade e, durante este período, evacuava duas a três vezes por dia, fezes pastosas, sem dificuldade. A mãe introduziu dieta do desmame a partir dos sete meses, constituída por leite de vaca integral com farinha de cereais (Mucilon® de arroz e aveia) e dieta sólida contendo glúten (macarrão). Como antecedente familiar relevante, a paciente tem uma irmã de seis anos que sofre de epilepsia de difícil controle desde os três anos de idade.
Ao exame físico apresentou peso igual a 11,4kg e estatura de 88,5cm (ambos os dados antropométricos no terceiro percentil). Apresentava palidez cutânea +/++++, massa palpável de consistência endurecida na fossa ilíaca e flanco esquerdo. A inspeção anal não revelou anormalidades e, no toque retal, pode-se palpar pequena quantidade de fezes de consistência endurecida.
Nessa ocasião, foram consideradas as seguintes hipóteses diagnósticas: baixo peso e baixa estatura (escore Z peso/idade -1,9; estatura/idade -1,6; peso-estatura -1,5), constipação crônica e anemia ferropriva. Foram solicitados os seguintes exames de investigação laboratorial: hemograma, ferro sérico, ferritina sérica, hormônio tireoestimulante, tiroxina livre, urina tipo 1 e cultura, protoparasitológico de fezes e radiografia simples do abdome. Na ocasião, foi prescrito desimpactação fecal por enema evacuatório com fosfato de sódio mono e dibásico (Fleet enema®), além de lactulose (Lactulona®) como laxante de manutenção na dose 2mL/kg/dia.
A paciente retornou para consulta após um mês sem relatar alívio da constipação, porém, foi observado que não havia sido cumprido o esquema terapêutico proposto. Em virtude do baixo peso e da baixa estatura, além da identificação de deficiência de ferro e ferritina séricos (Tabela 1), foram solicitados os testes de dosagem do hidrogênio (H2) no ar expirado com sobrecarga de glicose (G), lactose (L), frutose (F) e lactulose (Lac) para avaliação da função digestiva-absortiva (Tabela 2), além da determinação do anticorpo antitransglutaminase tecidual (AATG) e imunoglobulina A sérica. Os testes com G, L e Lac mostraram valores dentro da normalidade, com elevação dos níveis de H2 no ar expirado <20ppm em relação ao nível de jejum. No caso da Lac, espera-se elevação do nível de H2 no ar expirado após 60 minutos, posto tratar-se de carboidrato não absorvível (tal elevação representa a ação fermentativa da flora bacteriana colônica). O teste com F indicou má absorção deste carboidrato, porém não revelou intolerância, visto que a paciente não apresentou quaisquer sintomas de intolerância. Em virtude da dosagem do anticorpo antitransglutaminase sérica ter-se revelado acima do valor de referência (33,62 unidades – valor de referência menor que 20 unidades), foi solicitada a realização da biópsia de intestino delgado por via endoscópica. A paciente apresentou nível sérico da imunoglobulina A de 111,1mg/dL (valor de referência entre 24 a 190mg/dL). A análise histológica evidenciou atrofia vilositária subtotal, com linfocitose intraepitelial difusa e discreto aumento do infiltrado linfoplasmocitário na lâmina própria (classificação Marsch 3A)(7) (Figuras 1 e 2). Diante do achado histopatológico foi estabelecido o diagnóstico de DC e introduzida dieta isenta de glúten. Após dois meses do início do tratamento dietético, a paciente passou a apresentar fezes pastosas com frequência diária das evacuações.






Caso 2
Paciente do sexo feminino, com 30 meses de idade, apresentava queixa de constipação crônica com escape fecal a partir da retirada das fraldas, o que ocorreu aos 27 meses de vida. Segundo a mãe, a paciente apresentava dor para evacuar, com fezes endurecidas e volumosas, sem presença de sangue ou outros elementos patológicos, a cada cinco dias. Era medicada com lactulose (Farlac) em dose abaixo da preconizada, sem sucesso. A paciente recebeu aleitamento misto até os oito meses de vida e, durante este período, evacuava duas a três vezes por dia, fezes pastosas, sem dificuldade. A mãe introduziu dieta sólida a partir dos seis meses, constituída por leite de vaca (fórmula adequada para a faixa etária) e dieta sólida própria para a idade, de acordo com a orientação do pediatra. A introdução de farinhas derivadas do trigo se deu nessa ocasião. Como antecedente familiar relevante, o avô é portador de Doença de Crohn (sic) e a mãe sofre de constipação crônica.
Ao exame físico apresentou peso igual a 11,7kg e estatura de 92cm (escore Z peso/idade -1,37; estatura/idade -0,78; peso-estatura -1,04). Apresentava aspecto emagrecido, abdome distendido com massa palpável no flanco esquerdo. Na ocasião, foram consideradas as seguintes hipóteses diagnósticas: baixo peso ou constipação crônica. Foi solicitado raio X simples de abdome, que revelou imagem com excesso de gases e fezes em toda a topografia colônica e sugestão de existência de massa fecal retida na ampola retal. A mãe foi orientada a realizar desimpactação fecal com clister de Fosfoenema e posteriormente manutenção com lactulose (2mL/kg/dia) e óleo mineral (2mL/kg/dia). Como a paciente manteve a queixa de constipação e retardo do ritmo de crescimento um ano após a conduta inicial, peso igual a 13,1kg e estatura de 98cm (escore Z peso/idade -1,07), foram solicitados os seguintes exames laboratoriais: hemograma, hormônio tireoestimulante, tiroxina livre e ferritina (Tabela 1). Também foram solicitados os testes sorológicos para rastreamento de DC, a saber: anticorpo antigliadina (AGA) IgA e IgG, anticorpo antiendomíseso (EMA), anticorpo antitransglutaminase tecidual e determinação dos antígenos de HLA DQ2 e DQ8.
Diante dos resultados positivos para os marcadores de DC, a saber: EMA 1/320 (valor de referência – não reagente), AGA IgA 9,9 e IgG 3,6 (valores de referência > 1 e > 3, respectivamente), AATG 165, HLA DQ2 +, foi realizada a biópsia de duodeno por via endoscópica. Esta revelou, à macroscopia, imagem da mucosa duodenal em ladrilho, sugestiva da DC. A microscopia óptica comum evidenciou atrofia vilositária de grau moderado, com significativo aumento dos linfócitos intraepiteliais; na lâmina própria havia aumento do infiltrado linfoplasmocitário e hiperplasia das glândulas crípticas (Marsh 2)(7). A paciente foi orientada a realizar dieta isenta de glúten, com desaparecimento da queixa de constipação um mês depois do início do tratamento dietético.
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-05822012000200020&script=sci_arttext

Genotipagem para Doença Celíaca: A Doença Celíaca (DC) ou a sua condição relatada como Dermatite Herpetiforme (DH) apresentam forte associação com os alelos HLA DQB1*0201, DQA1*0501 e DRB1*0301. Aproximadamente 86 % dos pacientes com CD apresentam os alelos HLA DQB1*0201 e DQA1*0501. Essa combinação de alelos HLA-DQ está associada, mas não causa doença em sí. Fatores ambientais podem estar envolvidos na patogênese da CD. A prevalência da Doença Celíaca é estimada em aproximadamente 0,1 % da população europeia e norte-americana. A genotipagem do HLA para DQB1*0201, DQA1*0501 e DRB1*0301 pode oferecer informações clinicamente úteis nas seguintes condições: (1) Triagem para pacientes com pais portadores de CD ou DH. (2) Quando o diagnóstico não se torna possível pela presença de resultados imunológicos e histológicos ambíguos. (3) Diagnóstico de CD latente, no qual a presença de anticorpos anti-endomísio ocorre em pacientes assintomáticos e com a morfologia da mucosa normal. (4) Quando a biópsia intestinal não é possível.
Perfil de Anticorpos para Doença Celíaca: inclui: Anti-Gliadina IgG & IgA, Anti-Reticulina e Anti-Transglutaminase IgA.
Os exames podem ser solicitados individualmente ou na forma de “PERFIL PARA DOENÇA CELÍACA”, conforme a descrição acima. Todos são realizados no sangue e não existe a necessidade de jejum ou de qualquer outro tipo de preparação.
A determinação dos marcadores genéticos HLA DQA1*0501 e HLA DQB1*0201 poderá agregar valor à pesquisa dos anticorpos. Sabe-se que estes antígenos de histocompatitibilidade apresentam peptídios da gliadina às células T da mucosa intestinal. Mais de 90% dos pacientes com doença celíaca apresentam estes marcadores, e um resultado negativo para ambos em conjunção com a pesquisa negativa de anticorpos séricos sugere fortemente ausência de doença celíaca.

Exame de sangue para diagnóstico da doença celíaca pode ser positivo em não celíacos devido à infecções

30 de novembro de 2009
Um novo estudo realizado por pesquisadores italianos revela que anticorpos anti-transglutaminase – um marcador serológico para o diagnóstico da doença celíaca – podem ser produzidos temporariamente em crianças com doenças infecciosas, independentemente da ingestão de glúten.

Um novo estudo publicado no mês de novembro sugere no entanto que os níveis dos anticorpos anti-transglutaminase podem também estar elevados temporariamente em crianças não celíacas que estejam com alguma doença infecciosa.
Os pesquisadores coletaram amostras de sangue de 222 crianças com doenças infecciosas diversas e as testaram para a presença de anticorpos anti-transglutaminase e anticorpos anti-endomísio, também um marcador para o diagnóstico da doença celíaca. No caso daquelas crianças para as quais um ou ambos os exames foram positivos, os pesquisadores testaram também a presença de marcadores genéticos da doença (moléculas HLA DQ2 e DQ8, as quais se acredita sejam necessárias para o desenvolvimento da doença) bem como a presença de anticorpos para as seguintes doenças infecciosas: vírus Epstein–Barr, rotavirus, adenovirus, ecovirus e Coxsackievirus. Os pesquisadores também analisaram os resultados de exames para os anticorpos anti-transglutaminase realizados em 1276 crianças saudáveis (sem processos infecciosos).
Das 222 crianças infectadas, 9 (4%) obtiveram resultados positivos para os anticorpos anti-transglutaminase. Dentre estas, apenas uma obteve resultados positivos para os marcadores genéticos da doença celíaca (para esta criança, o diagnóstico da doença se confirmou através de biópsia do intestino, e a criança então passou a seguir a dieta isenta de glúten). Dentre as 8 crianças restantes, os níveis de anticorpos anti-transglutaminase e antivirais retornaram ao normal após um ano, apesar da adoção de uma dieta com glúten. A prevalência de níveis elevados de anti-transglutaminase entre as crianças infectadas também foi significativamente maior que a prevalência destes anticorpos entre crianças saudáveis (8 positivos dentre 222 crianças infectadas comparado à 11 positivos dentre 1276 crianças saudáveis).
A pesquisa também revelou que os anticorpos anti-transglutaminase produzidos devido à presença de infecções em crianças não celíacas tem as mesmas propriedades biológicas que a anti-transglutaminase produzida em celíacos, ou seja, tem o mesmo potencial para danificar os tecidos intestinais [note-se então que infecções crônicas podem assim ser acompanhadas não somente de níveis mais altos de anticorpos, como também de danos à mucosa intestinal].
Os pesquisadores concluem o estudo sugerindo que um aumento nos níveis de anticorpos anti-transglutaminase não ocorre exclusivamente na presença de doença celíaca não tratada, podendo representar um fenômeno imunológico desencadeado por infecções virais – uma observação que deve ser levada em conta por profissionais de saúde na determinação e diagnóstico da presença – ou ausência - da doença celíaca.
Fonte: http://www.vidasemglutenealergias.com/exame-de-sangue-para-diagnostico-da-doenca-celiaca-pode-ser-positivo-em-nao-celiacos-devido-a-infeccoes/544/

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