sexta-feira, 31 de julho de 2015

Into expande captação de ossos e tendões para todo país

Instituto mantém equipes preparadas 24 horas por dia, 365 dias do ano e todo o procedimento é gratuito

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RIO — A dor e o inchaço na perna forçaram a carioca Mariana Flores, na época com 13 anos, a procurar um médico. De imediato, o ortopedista recomendou uma ressonância. Apenas dois dias separaram os primeiros sintomas do diagnóstico. A jovem tinha sarcoma de Ewing, uma forma de tumor ósseo maligno que atinge principalmente crianças e adolescentes. Com a doença avançada, ela foi encaminhada para o Instituto Nacional do Câncer (Inca), onde prontamente iniciou a quimioterapia. Após um ano e meio de tratamento e consequentes respostas positivas, a equipe médica optou pela cirurgia, tornando a Mariana uma das beneficiadas das captações de tecidos ósseos e tendões que o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (Into) acaba de expandir para todo o Brasil. Ampliando a sua atuação no país e capacitando as equipes, o órgão deixa de depender apenas das doações realizadas no estado do Rio na tentativa de contornar uma escassez de doadores.
— Troquei quase um fêmur total. A marca é perfeita. A doação foi imprescindível para mim. Não sei como seria minha vida, se poderia fazer tudo o que faço hoje. Vou à academia, faço crossfit e hoje mesmo fiz uma trilha — afirma Mariana, hoje com 20 anos.
De 2010 a 2013, as doações para o Banco de Tecidos, o maior do país, vinham em crescimento. Mas, em 2014, se estabilizaram. Neste ano, não há tendência de aumento. O Into mantém equipes preparadas para realizar captações 24 horas por dia, 365 dias do ano. Todo o procedimento, desde a captação, processamento, armazenamento e distribuição do transplante é gratuito para o receptor.
— Cada captação pode ajudar de 30 a 40 pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Você consegue captar de cada doador uma quantidade bastante grande de tecido ósseo, de córnea, de tendões. Até agora, nos primeiros seis meses deste ano, foram 11 captações. A gente precisa captar bem mais — disse o diretor geral do Into, João Matheus Guimarães, ressaltando a importância do rompimento do instituto com a limitação de receber doações apenas do Rio.
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ENFRENTANDO UM TABUDepois de passar um ano em recuperação na companhia diária de uma muleta, a primeira operação de Mariana teve uma rejeição, uma vez que, como a própria lembra das palavras do médico, “a quimioterapia não deixava o organismo se recuperar 100%, e o bom resultado não depende só da cirurgia, mas de todo o organismo, da calcificação do osso”. Aos 15 anos, ela passou, então, por um novo procedimento, já não mais realizando o tratamento.
— Nessa vez a recuperação foi bem mais rápida, em seis meses já estava bem. Hoje, cinco anos depois, minha doença é considerada controlada e só vou ao Inca e ao Into para acompanhar, de ano em ano — explica a estudante, que esbanja um tom protocolar não à toa, já que está no quarto período de Medicina na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). — Sempre quis fazer a área biomédica. Não sabia se era Veterinária ou Medicina. Como passei muito tempo dentro do hospital, via que não buscava só me tratar, mas saber por que precisava fazer aquilo.
O tipo de doação que Mariana recebeu, no entanto, enfrenta um tabu, segundo Guimarães. Em pesquisas prévias realizadas no instituto, sua equipe constatou que há receio por parte da população de que os corpos dos doadores não sejam entregues íntegros. Isso porque são retirados ossos e tendões dos braços e pernas.
— A ideia é sensibilizar as famílias, que devem autorizar a doação de pacientes com morte cerebral. Muitas acham que o parente vai ficar desfigurado, e não é isso. Na cirurgia, é realizada a reconstrução com material sintético. O sepultamento vai poder ser realizado normalmente — esclarece o diretor.
Criado em 2002, o Banco de Tecidos do Into é responsável pela captação, processamento e distribuição de ossos, tendões e meniscos para utilização em cirurgias de transplantes na área da ortopedia e odontologia.
Os futuros doadores devem expressar, em vida, sua vontade de doar ossos e comunicar aos seus parentes. É necessário ter entre 18 e 70 anos de idade e não ter sido vítima de câncer ósseo, osteoporose ou doença infecciosa transmitida pelo sangue (como hepatite, aids, malária). A doação também não é permitida de quem, há menos de um ano, fez tatuagem, usou corticoides por um período prolongado, realizou acupuntura ou recebeu transfusão sanguínea.

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