País tem 20 estados com 2.401 notificações de suspeita de zika
Ao todo, foram confirmados 134 casos de malformação do cérebro relacionados ao vírus
por Renata Mariz
Grávidas tem estado preocupadas com o aumento de casos de microcefalia, possivelmente causada pelo vírus Zika - Guito Moreto / Agência O Globo
BRASÍLIA - Mais seis estados, totalizando 20 unidades da federação, registraram casos suspeitos de microcefalia relacionada ao vírus zika, somando 2.401 notificações este ano. Desse total, 134 diagnósticos de malformação do cérebro ligada ao micro-organismo já foram confirmados, 102 acabaram descartados e 2.165 continuam em investigação, segundo boletim epidemiológico divulgado ontem pelo Ministério da Saúde.
Pela primeira vez, Minas Gerais, Mato Grosso, Espírito Santo, Pará, São Paulo e Rio Grande do Sul aparecem no comunicado emitido pelo governo federal. Pernambuco, onde a epidemia foi inicialmente identificada, continua com o maior número de notificações: 874 sendo investigadas, 29 confirmadas e 17 descartadas. O Rio de Janeiro tem 57 casos sendo apurados — 34 a mais que o registrado no último boletim, divulgado na semana passada.
Desde o último balanço, o número de casos suspeitos subiu 36,3% (passando de 1.761 para 2.401). Até 2015, segundo o ministério, o Brasil tinha menos de 200 registros de microcefalia por ano. O surto levou o governo federal a decretar, em 11 de novembro, emergência em saúde pública de importância nacional. Em seguida, veio a confirmação de que a malformação estava relacionada ao vírus zika, transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti.
O número de bebês que morreram com microcefalia suspeita de ter sido causada pelo zika também aumentou, de 19 casos, até o balanço anterior, para 27. Desse total, na verdade, um caso já foi confirmado; os demais 26 ainda estão sendo investigados. Houve ainda dois óbitos, ambos no Rio de Janeiro, que acabaram descartados pelas equipes de saúde. É a primeira vez que o Ministério da Saúde divulga o boletim com o número de casos descartados, segundo protocolos decididos recentemente.
PREOCUPAÇÃO AUMENTA COM ÉPOCA DE FÉRIAS
O boletim mostra que a suspeita de microcefalia relacionada ao zika já chegou a 549 municípios de 20 unidades da federação este ano. Em 18 estados, segundo a pasta, está comprovada a circulação do vírus, mas todo o país corre perigo, alerta Claudio Maierovitch, diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde:
— Existe risco em todos os estados. Se uma pessoa portadora do vírus entra num estado, o micro-organismo pode se disseminar e criar uma corrente de transmssão sustentada.
Devido ao deslocamento habitual de pessoas durante as festas de fim de ano e ao longo do período de férias escolares, Maierovitch orienta a população a ter cuidado, antes de fechar as casas para viajar, a fim de não deixar criadouros do mosquito Aedes aegypti. Outra preocupação é em relação ao destino escolhido.
— Esse é um temor e uma preocupação que estamos verificando junto com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para termos informações atualizadas sobre a saúde dos viajantes e para que as pessoas que estiverem indo para áreas de circulação do vírus se protejam — afirma.
Perguntado sobre quais estados representam mais risco, Maierovitch destaca os que já têm histórico de zika:
— São todos (os estados) do Nordeste. E todos os que tiveram a identificação de casos autóctones (transmissões internas) provavelmente mantêm a transmissão do vírus, já que não houve eliminação dos mosquitos.
METODOLOGIA DISPENSA EXAMES LABORATORIAIS
Todos os estados do Nordeste, com exceção de Sergipe, além de Roraima, Pará, Amazonas, Rondônia e Tocantins, já registraram casos de transmissão interna. São locais em que a circulação do zika está provada.
Maierovitch diz que o governo estuda, em parceria com secretarias estaduais e municipais, adotar a mesma metodologia usada em relação à dengue para determinar a notificação de casos de zika. Por esse protocolo, exames clínicos seriam suficientes para as unidades de saúde registrarem infecções pelo vírus, desde que a circulação do micro-organismo já esteja provada por testes laboratoriais na região. Com a medida, o governo poderia ter uma ideia melhor da dimensão da infecção por zika no país. Também driblaria a dificuldade relacionada aos exames laboratoriais, que são pouco precisos para esse vírus.
— Além de a maioria das pessoas não se dirigir a uma unidade porque não tem sintomas, a única forma de confirmar (o zika) por laboratório é se houver coleta de sangue durante o quadro agudo — explica Maierovitch.
Por esse motivo, segundo ele, o governo havia optado pelo modelo de “vigilância sentinela”, que faz análise laboratorial apenas de uma pequena parte dos casos, a fim de constatar se há circulação do vírus naquela região ou estado. Agora, depois de constatada a relação entre zika e microcefalia, a ideia é que a notificação, como ocorre com a dengue, passe a ser feita com base em exames clínicos, que são menos demorados e complexos.
O repelente cuja distribuição a grávidas o governo anunciou ainda está em fase de negociação para ser adquirido, segundo o diretor do Departamento de Vigilância do Ministério da Saúde. De acordo com Maierovitch, representantes da pasta se reunirão esta semana com produtores, para verificar custos e capacidade de produção, entre outros detalhes. Ele procurou não focar no repelente como uma ação importante da política de saúde.
— Repelente é um quebra-galho, serve para proteger individualmente as pessoas quando não se conseguiu o controle da infestação por mosquitos — diz ele.
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