Novidade na ciência19/12/2015 | 04h02
Conheça a pílula de fezes humanas que ajuda a combater bactéria
Cápsulas simplificaram o processo chamado de transplante de microbiota fecal, que ajuda pessoas infectadas
Peter Andrey Smith
Dois anos atrás, Catherine Duff, então com 57 anos, descreveu para um painel do governo em Washington, com emoção, o quanto sofreu com a infecção de Clostridium difficile, bactéria resistente a antibióticos. Contou que só se recuperou após tratar a infecção gastrointestinal em casa com as fezes de seu marido, um liquidificador e um enema — uma injeção de líquido no ânus.
Mark B. Smith, jovem estudante de doutorado em Microbiologia, estava na plateia, quase tão emocionado quanto Catherine. Decidido a ajudar pacientes como ela, Smith começou uma organização sem fins lucrativos chamada OpenBiome, o primeiro banco de fezes dos Estados Unidos, que distribui amostras fecais de doadores saudáveis para ajudar a curar pessoas infectadas com C. difficile.
Mark B. Smith, jovem estudante de doutorado em Microbiologia, estava na plateia, quase tão emocionado quanto Catherine. Decidido a ajudar pacientes como ela, Smith começou uma organização sem fins lucrativos chamada OpenBiome, o primeiro banco de fezes dos Estados Unidos, que distribui amostras fecais de doadores saudáveis para ajudar a curar pessoas infectadas com C. difficile.
Agora, a OpenBiome simplificou o processo chamado transplante de microbiota fecal. O banco criou uma cápsula contendo micróbios fecais que pode ser tomada como qualquer outra droga — é o cocô em pílula.
— É um avanço óbvio — disse Smith.
— É um avanço óbvio — disse Smith.
Ingrediente era um desafio
O C. difficile existe em meio a trilhões de outras bactérias em seres humanos normais e saudáveis. Quando os antibióticos aniquilam a concorrência, essa bactéria se espalha pelo intestino, produzindo toxinas e causando diarreia persistente. A doença atinge cerca de 450 mil americanos anualmente, matando 15 mil. A maioria contrai a infecção em hospitais e asilos.
Esses micróbios são cada vez mais resistentes aos antibióticos convencionais. Normalmente, o transplante fecal é o último recurso. As fezes do doador são introduzidas no intestino ou no cólon de um paciente doente por meio de enema, colonoscopia ou sonda nasogástrica ou nasojejunal. As bactérias saudáveis parecem afastar a C. difficile e reestabelecem uma comunidade microbiana normal no intestino. Mas os transplantes são caros, demorados e invasivos.
— A primeira coisa que começamos a pensar foi que tínhamos de nos livrar da colonoscopia — declarou Smith.
Dois estudos mostraram que as cápsulas eram eficazes no tratamento de C. difficile recorrente. Porém, o problema era como produzi-las em grandes quantidades.
— Ela precisa se manter viável. Tudo tem de ser feito em temperatura ambiente ou corporal — explicou Smith.
O ingrediente biológico ativo era o principal desafio. As cápsulas são normalmente projetadas para se dissolverem nas fezes — com esse conteúdo, as pílulas essencialmente se degradam de dentro para fora.
Após mais de um ano e meio, a OpenBiome finalmente desenvolveu pílulas que se mantêm sólidas à temperatura ambiente e se dissolvem no intestino delgado superior.
Em um estudo piloto apresentado em uma reunião científica na Europa, em outubro, os clínicos mostraram que engolir uma dose única de 30 cápsulas curou 70% dos pacientes infectados com C. difficile. Quando os pacientes restantes receberam uma segunda dose do tratamento, o índice de sucesso subiu para 94%.
— A primeira coisa que começamos a pensar foi que tínhamos de nos livrar da colonoscopia — declarou Smith.
Dois estudos mostraram que as cápsulas eram eficazes no tratamento de C. difficile recorrente. Porém, o problema era como produzi-las em grandes quantidades.
— Ela precisa se manter viável. Tudo tem de ser feito em temperatura ambiente ou corporal — explicou Smith.
O ingrediente biológico ativo era o principal desafio. As cápsulas são normalmente projetadas para se dissolverem nas fezes — com esse conteúdo, as pílulas essencialmente se degradam de dentro para fora.
Após mais de um ano e meio, a OpenBiome finalmente desenvolveu pílulas que se mantêm sólidas à temperatura ambiente e se dissolvem no intestino delgado superior.
Em um estudo piloto apresentado em uma reunião científica na Europa, em outubro, os clínicos mostraram que engolir uma dose única de 30 cápsulas curou 70% dos pacientes infectados com C. difficile. Quando os pacientes restantes receberam uma segunda dose do tratamento, o índice de sucesso subiu para 94%.
Em estudos anteriores, por comparação, a microbiota fecal administrada por meio da colonoscopia provou ser 90% eficaz na cura de infecções do C. difficile – a eficiência dos antibióticos tende a ser inferior a 40%. Atualmente, o novo tratamento com 30 cápsulas custa US$ 635 e é vendido apenas para médicos. Os comprimidos não são aprovados pela FDA, mas a agência preferiu não tomar nenhuma atitude para proibi-lo por causa da falta de alternativas.
Tratamento também apresenta riscos
Apesar da facilidade, engolir cápsulas cheias de fezes humanas pode ser arriscado. Se os micróbios intestinais, potenciais salva-vidas, chegarem aos pulmões, por exemplo, o tratamento pode ser fatal.
Alguns suspeitam que fezes humanas saudáveis possam nem ser necessárias. A empresa de biotecnologia Seres Therapeutics, em Cambridge, Massachusetts, nos EUA, realiza ensaios clínicos com o SER-109, um tratamento com quatro pílulas feitas de bactérias anaeróbicas formadoras de esporos que foram extraídas de fezes humanas doadas e tratadas com etanol.
De acordo com Roger Pomerantz, executivo-chefe da Seres, a empresa também tem uma pílula de segunda geração que contém micro-organismos semelhantes cultivados sinteticamente em laboratório. Ele não vê futuro para os comprimidos contendo fezes reais.
— Não sei por que alguém faria isso. Não acredito que o futuro seja enviar fezes para todo o país — opina ele.
No momento, no entanto, essas novas formulações ainda estão em desenvolvimento e não há alternativa.
Smith e seus colegas dizem que as cápsulas ajudarão a expandir a pesquisa. Ensaios clínicos pelo mundo testam transplantes de microbiota fecal não apenas para combater o C. difficile, mas também outras doenças gastrointestinais.
Jessica R. Allegretti, médica no Hospital da Mulher em Boston, faz testes com as cápsulas contra a doença de Crohn, a obesidade e a C. difficile primária.
— Elas realmente reduzem o tempo entre a avaliação e o procedimento, e isso, de fato, amplia o número de pessoas que pode receber o tratamento. Então, as cápsulas parecem ser um indício do que veremos no futuro, especialmente para distúrbios que parecem exigir vários tratamentos ou doses de manutenção — disse ela.
E acrescentou:
— As cápsulas nos permitem continuar com os estudos e a terapia de manutenção em longo prazo, que é mais prática para esse tipo de doença crônica. Sem elas, não seríamos capazes de realizar este tipo de trabalho.
Alguns suspeitam que fezes humanas saudáveis possam nem ser necessárias. A empresa de biotecnologia Seres Therapeutics, em Cambridge, Massachusetts, nos EUA, realiza ensaios clínicos com o SER-109, um tratamento com quatro pílulas feitas de bactérias anaeróbicas formadoras de esporos que foram extraídas de fezes humanas doadas e tratadas com etanol.
De acordo com Roger Pomerantz, executivo-chefe da Seres, a empresa também tem uma pílula de segunda geração que contém micro-organismos semelhantes cultivados sinteticamente em laboratório. Ele não vê futuro para os comprimidos contendo fezes reais.
— Não sei por que alguém faria isso. Não acredito que o futuro seja enviar fezes para todo o país — opina ele.
No momento, no entanto, essas novas formulações ainda estão em desenvolvimento e não há alternativa.
Smith e seus colegas dizem que as cápsulas ajudarão a expandir a pesquisa. Ensaios clínicos pelo mundo testam transplantes de microbiota fecal não apenas para combater o C. difficile, mas também outras doenças gastrointestinais.
Jessica R. Allegretti, médica no Hospital da Mulher em Boston, faz testes com as cápsulas contra a doença de Crohn, a obesidade e a C. difficile primária.
— Elas realmente reduzem o tempo entre a avaliação e o procedimento, e isso, de fato, amplia o número de pessoas que pode receber o tratamento. Então, as cápsulas parecem ser um indício do que veremos no futuro, especialmente para distúrbios que parecem exigir vários tratamentos ou doses de manutenção — disse ela.
E acrescentou:
— As cápsulas nos permitem continuar com os estudos e a terapia de manutenção em longo prazo, que é mais prática para esse tipo de doença crônica. Sem elas, não seríamos capazes de realizar este tipo de trabalho.
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